MORREU ALFREDO FARINHA – UM MESTRE PARA TODOS NÓS

DESPORTO, EVENTOS E DISTINCOES – Alfredo Farinha na entrega dos Premios CNID referentes ao ano de 2008. Sede do Comite Olimpico de Portugal, na Ajuda, Lisboa. Segunda Feira, 13 de Outubro de 2008. (MIGUEL NUNES/ASF)

Morreu o tio Alfredo!

“Não sou um fã incondicional de Saramago, mas li recentemente uma frase sua genial: que um Nobel nada significa às portas da morte. Para mim, confesso, este prémio tem uma importância nobel, por ser do CNID, uma célula viva de apoio ao desporto, que nasceu de um grito de revolta contra a prepotência. Nesses idos anos 60, nós, jornalistas do desporto, éramos vistos apenas como colaboradores desportivos dos jornais, enquanto outros que se limitavam a copiar e a colar informações da Reuters é que eram jornalistas! Hoje, as coisas e os reconhecimentos são, felizmente, muito diferentes. É por isso que recebo apaixonadamente este prémio, mesmo que morra daqui a dois ou três minutos”.

Relembro as palavras emocionadas de Alfredo Farinha quando o CNID, num acto de elementar justiça, o distinguiu com o Prémio Prestígio Fernando Soromenho, instituído pela minha Direcção em homenagem ao primeiro presidente da Associação de Jornalistas de Desporto, nos tais anos sessenta em que tudo era nem mais difícil. Farinha sucedeu a Artur Agostinho e a Mário Moniz Pereira e comoveu-se. Comoveu-nos a todos, foi o que foi, do Vitor Serpa ao Joaquim Rita, passando pelo Santos Neves, o David Sequerra e alguns mais novos que com ele trabalharam e conviveram, casos do António Magalhães e do Nuno Madureira.

Tive ocasião de lembrar algo que o homenageado, certamente, não guardava na sua memória de homem modesto e sempre pronto a ajudar um colega em dificuldades, fosse qual fosse o seu estatuto: numa noite alemã fria e agreste, pelo adiantado da hora, transmiti pelo telefone a crónica de um encontro de futebol para que fora destacado. “Recebeu-me” o tio Alfredo, como carinhosamente muito de nós lhe chamávamos, ele escreveu o texto e… o meu nome como enviado-especial. E ainda hoje considero a prosa que saiu no jornal do dia seguinte como a mais bela da minha longa carreira, clara, límpida e maravilhosa, como só ele sabia fazer.

Ficamos todos mais pobres. Os jornalistas e o próprio jornalismo, desportivo ou não, que perdeu um dos seus maiores vultos.

Que descanse em Paz.

António Florêncio