Amava o jogo de futebol, amava as regras, cultivava princípios, defendia valores, sempre com muito gosto de viver, amável e coloquial, bem disposto. Crítico sempre, sem rancores nem pedantismo, foi assim em traço de saudade… o jornalista Fernando Cruz dos Santos, desaparecido do nosso convívio, na cidade de Lisboa, era manhã de quinta-feira,16 de Maio 2013, não muito distante do seu refúgio retemperador na Costa da Caparica.
“O Fernando Cruz dos Santos teve sempre um compromisso ético e de rigor com os leitores” escrevia Vítor Serpa, director de “A Bola”, emotivo e nostágico,”mesmo sem jeito para obituários”, como quase todos nós, rematava certeiro: “Ganhou com isso o respeito pessoal e profissional de um mundo onde não é fácil ser-se reconhecido.”
“O Cruz”, registo comum de camaradagem, foi o último dos jornalistas da “geração dourada” de “A Bola” — é provável, e será justo evocá-la também como a geração de brilho permanente mais intenso, do jornalismo português. Por ordem alfabética aqui fica, mais uma singela homenagem, a um grupo de jornalistas que ao longo do seu absorvente percurso profissional e de cidadania bem resolvida também se interessou pela vida associativa do CNID. Alguns deste grupo histórico foram, inclusivé, fundadores: ALFREDO FARINHA,AURÉLIO MÁRCIO,CARLOS MIRANDA,CARLOS PINHÃO, CRUZ dos SANTOS,HOMERO SERPA. NUNO FERRARI (fotojornalista),VÍTOR SANTOS (“o chefe”).
Santos Neves, outro dos caminhantes da longa jornada no diário desportivo da popular Travessa da Queimada lisboeta aproveitou o momento para registar com o sentimento nobre da gratidão que o Fernando foi o “último da elite de jornalistas, a ouro gravados na história de ” Bola”, que aqui me receberam miúdo, e ao longo dos anos me ensinaram, me apoiaram, me promoveram”.
(Fotografia gentilmente cedida pelo jornal “A Bola”)
Avançado na “Afonso Domingues”
júnior e sénior no Atlético do Cacém
Fernando Cruz dos Santos nasceu em Lisboa, a 10 de Dezembro de 1931, e em determinado momento da vida de seus pais (Manuel dos Santos e Beatriz Cruz dos Santos) habitou no Bairro da Liberdade, junto a Campolide, em zona próxima onde nos dias de hoje se acolhe a sede do CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto.
Praticou futebol como avançado na equipa da Escola Afonso Domingues. participando, por isso, nos campeonatos escolares da modalidade que então eram promovidos pela extinta M.P. Mais tarde, sempre na dianteira, representou as equipas, júnior e sénior, do Atlético Clube do Cacém e viu-se envolvido nas competições oficiais da Associação de Futebol de Lisboa (AFL).
Depois, já com a arbitragem a dominar os seus interesses, frequentou um curso para árbitros de futebol promovido exactamente pela A.F.L. obtendo, aliás, excelente classificação.
Dizia ele, a propósito, “isto foi só para testar o que sabia e o que não sabia” pois, sublinhava então o Cruz, uma eventual carreira na arbitragem seria “incompatível com a função de colaborador jornalístico” em “A Bola”.
Já como redactor do seu jornal de sempre Fernando Cruz dos Santos preside ao júri dos exames dos candidatos a árbitros de 1ª categoria nacional, acedendo a um honroso convite da extinta Comissão Central de Árbitros de Futebol. Foi prelector ainda de vários cursos de arbitragem e até ao último dia de vida não se cansou de comparecer ao longo do país em colóquios, debates e convívios solicitado por inúmeros convites oriundos de associações desportivas, clubes, núcleos de arbitragem, autarquias, de entre muitas outras instituições que valorizaram sempre a importância da palavra sábia e ponderada de um “expert” da causa arbitral, como foi sem dúvida Cruz dos Santos.
De resto a APAF (organismo de classe dos árbitros) e o Conselho de Arbitragem da AFL souberam reconhecer, em momentos diversos, a entrega devotada e a competência do especialista na matéria, tendo este último na temporada de 1996-97 promovidos cursos para árbitros de futebol de 11 e de futsal com o nome de Fernando Cruz dos Santos, como patrono dessas acções de formação.