ESPECIALISTA EM ARBITRAGEM SEMPRE PELO LADO HUMANO…

Cruz dos Santos foi colaborador em ” A Bola”, antes de ser convidado a integrar o brilhante quadro redactorial que o agora diário desportivo sempre primou por manter.

Foi também correspondente do diário desportivo madrileno “A Marca” (17 anos); colaborou na equipa desportiva da Rádio Renascença (3 anos); foi comentador desportivo na RTP 1 e 2 e passou ainda pela SIC, sem permanência fixa.

Nunca foi chamado à TVI: “vá lá saber-se porquê”… comentava o Cruz com aquele sorriso aberto que o caracterizava e que distingue os bons comunicadores que ele também foi!

É curioso que na gíria houve-se desde sempre a expressão popular “fora o árbitro”. Pois o Fernando Cruz dos Santos criou um interessante espaço de comentário, de crítica e/ou de análise denominado por “Vivó Árbitro”. Este título expressa bem o tom humanista como o Cruz interpretava a função do árbitro. Ele defendia o lado humano dos árbitros sem nunca abrir mão, no entanto, do cumprimento rigoroso das leis de jogo. A rúbrica a que ele deu vida até nos deixar era alvo não só da atenção do adepto anónimo, como era lida por dirigentes, praticantes, árbitros naturalmente, jornalistas. O Fernando rivalizou, de forma saudável, com Carlos Arsénio, jornalista de “Record”, falecido em Novembro 2012. Todas as semanas à Redacção de “A Bola” chegavam centenas de cartas dirigidas a Cruz dos Santos por via de” Vivó Árbitro”. E ele, pacientemente, tirava dúvidas, esclarecia interpretações, divulgava regras, tendo sempre presente, também, o espírito do “fair-play” que na competição profissional é ainda “mais transcendente”, se assim poderemos considerar.
A histórica chegada de Eusébio a Lisboa

Mas o Fernando Cruz dos Santos não foi só “o melhor especialista em arbitragem da Imprensa portuguesa”, na alusão conhecedora de Vítor Serpa. Foi também um “entrevistador notável” e um “cronista rigoroso. “Era um jornalista que não se importava de sacrificar a notícia ao interesse humano do noticiado”, enfatizou o director de “A Bola”.

Ficou célebre o trabalho jornalístico de Cruz dos Santos, em Dezembro de 1960, quando à porta da alfândega do aeroporto internacional de Lisboa, vulgo Portela, recolheu as primeiras declarações de Eusébio que então chegava a Lisboa rumo ao Benfica. Célebre não só pela personagem central da reportagem como também pela forma humana como o Fernando apresentou, em primeira mão, ao público da então “Metrópole” o menino nascido em Moçambique que procedia do bairro pobre da Mafalala; o menino preto, bom de bola, mas habituado a jogar descalço, com “redondinhas” feitas de meias esburacadas, cheias com papel de jornal, com papel de embrulho, ou até papel de secar as frituras em óleo, muitas vezes repassado,

Eusébio da Silva Ferreira, de seu nome completo, chegava então a Lisboa por via aérea, desde a longínqua Lourenço Marques colonial, actual Maputo, capital independente no Índico, para uma carreira que se projectou no mundo global.

E vê-lo há dias na Tribuna de Honra do Estádio Arena de Amesterdão, na final da Liga Europa, ao lado de Platini e de Cruyff, 53 anos depois de muitos golos, muito sucesso no Benfica e na selecção portuguesa, (também com algumas agruras pelo meio), fez saltar da memória esta histórica reportagem do Cruz. Eusébio, pela escrita humanista e rigorosa de Fernando Cruz dos Santos, já estava a escrever a sua história, muito antes dos pontapés para a glória, dos rompantes relvado fora, dos golos impossíveis e imprevisíveis Ficam os dois — o Fernando e o Eusébio, bons amigos — nas nossas memórias para sempre e na História de tanta estória, contada e por contar ainda!

À família de Fernando Cruz dos Santos, nosso associado de longa data, e ao jornal “A Bola”, o CNID-Associação dos Jornalistas de Desporto transmite os votos de profundo pesar…