Fundador e associado número 3 do CNID, distinguiu-se como jornalista, dirigente, pedagogo, escritor, formador, divulgador do Olimpismo, conferencista e, também, como seleccionador nacional do futebol jovem, com sucesso de campeão.
Nascido em Lisboa a 21 de Junho 1933 David Sequerra deixou-nos, aos 82 anos, interrompendo a nossa camaradagem, de longuíssima data, o convívio dos seus familiares e a cumplicidade dos seus muitos fiéis amigos — grupo socialmente polifacetado, em correspondência à sua formação multidisciplinar e ao seu intenso percurso de vida com uma actividade diversificada, sempre pontuada, apesar disso, por uma marca de inegável competência: a de saber e do saber feito!
Fundador do CNID, sempre dedicou um carinho especial pela nossa/sua Associação onde liderou, aliás, a Assembleia Geral, mantendo-se ao longo do tempo como um conselheiro privilegiado dos jornalistas que têm integrado os respectivos Corpos Dirigentes o que lhe fez granjear em todos, e em cada um, um respeito e uma admiração, indeléveis, sentimentos que vão perdurar — estamos certos, disso — para além do cinquentenário da fundação do CNID, que já estamos a comemorar. David Sequerra acompanhou com entusiasmo a caminhada heróica do fundador e primeiro Presidente da Direcção, Fernando Soromenho, e foi com todo gosto e justiça que, em Julho de 2009, no Fórum Picoas, lhe foi entregue o Prémio Prestígio do CNID-AJD, que ostenta, precisamente, o nome do primeiro Presidente da nossa Associação.
A este quadro acresce referir que Sequerra, um homem de cultura e da Cultura, celebrou a sua formação académica em História, com a licenciatura na faculdade de Lisboa, corria o ano de 1966,em período coincidente com a fundação do CNID.
Mas não se ficou por aí este nosso amigo e veterano associado porque entretanto logrou obter novas formações académicas: em Engenharia, nos “Pupilos do Exército” — outra das instituições pela qual nutria particular apreço, tendo sido presidente da Associação de Antigos Alunos do mesmo; e, ainda, em Ciências Pedagógicas e Psicologia Industrial.
David Sequerra leccionou a cadeira de “Gestão de Recursos Humanos”, como professor convidado, em Lisboa, num dos cursos da Universidade Lusófona e foi com reconhecido sucesso que dirigiu o “sistema de formação do voluntariado” para a “Expo98. Processo complexo, envolvendo milhares de candidatos, dos quais apenas foram seleccionados 1200 (jovens ou menos jovens, de ambos os sexos).E ao longo daquele grande acontecimento global que Lisboa acolheu, há quase 20 anos, estes voluntários permaneceram no terreno sempre sob a supervisão, atenta e competente, de David Sequerra.
Concurso de Jornalismo perpetua David Sequerra
David Sequerra era membro fundador da Academia Olímpica de Portugal (AOP), presidida nesta data por Luís Costa. Em Dezembro 2015 a AOP promoveu no auditório do Comité Olímpico de Portugal (COP) uma sessão comemorativa do seu aniversário e aproveitou o ensejo para uma homenagem pública, com entrega de uma distinção alusiva, sublinhando os relevantes serviços que Sequerra prestara à AOP, em particular, e à causa do Olimpismo, em geral.
A AOP vai retomar, entretanto, uma sua iniciativa, antiga, e que se reporta a um concurso de Jornalismo, sobre temas olímpicos, reservado aos profissionais da escrita e/ou colaboradores da Imprensa Regional, para a qual solicitou o apoio do CNID. Apoio esse que nos honra, já confirmado oficialmente, aliás, e que vai assim perpetuar o nome, a imagem, e o trajecto de sucesso de uma longa vida dedicada a formar e a transmitir os valores que valem a pena viver como os da paz, do fair-play, do respeito e da camaradagem. E esta iniciativa da AOP ficará associada, naturalmente, ao nome de David Sequerra.
Foi um destacado dirigente olímpico, tendo integrado a Comissão Executiva do COP e, entre 1980 e 1989,desempenhado as funções de Secretário-Geral, cargo que projectou David Sequerra, ao nível mundial, para os domínios do Olimpismo não tivesse já, este Movimento, uma marca muito evidente de universalidade.
Participou, sucessivamente, em quatro edições dos Jogos Olímpicos: Roma (1960);Los Angeles (1984); Seul (1988); Barcelona (1992), sendo curioso referir que na capital italiana esteve como jornalista. À data do seu falecimento era membro de Mérito do COP e, em 2002, integrou a Comissão de Ética Desportiva (assessoria especializada, à presidência) do COP.
Owens, o atleta-herói à conversa em Roma
Em “Evocações Olímpicas”, (Europress Lda.),livro prefaciado pelo seu amigo de sempre Fernando Ferreira Lima Bello, membro honorário do Comité Olímpico Internacional (COI) e seu representante em Portugal, pode ler-se.”…Numa dúzia de cidades distribuídas pelos quatro continentes…o Autor viveu peripécias dignas de serem contadas, em preciosos exercícios de memória,… conheceu, conviveu de perto, com algumas personalidades que muito deram de si aos ideais do Olimpismo, ajudando o Autor na sua entusiástica evolução.”
Jess Owens, o atleta-herói de Berlim 1936, fez história no Olimpismo e Sequerra considerou como “inesquecível “o convívio que os aproximou, em Roma, era Setembro, no ano de 1960. Jess, nesta data já ia nos 47 de idade e David Sequerra, registava menos 20. Foram diálogos inesperados, quanto enriquecedores. A foto, única, que faz a contra-capa desta obra, editada pelo COP e apresentada em Novembro 2012, na sede do mesmo, também vale a pena ser visitada pelos jornalistas e por todos aqueles que se interessam por estas matérias.
Sequerra dirigiu um sem número de cursos, no âmbito da Escola Itinerante da Solidariedade Olímpica, nos quatro cantos do Mundo, uma das acções de maior relevo com a chancela do COI, e daí ressaltar o interesse superlativo por um outro livro, de crónicas, publicado pela Multinova (2002) e também com o alto patrocínio do COP, este com prefácio de outro amigo “do peito”, Fernando Machado, “dirigente modelar”, falecido em 1993, aos 77 anos. “DEA- Dezoito histórias africanas” reporta, com uma memória prodigiosa, experiências muito especiais vividas durante dez anos, em missões na Mãe-África (1987-1997),de Luanda a Bamako, de Libreville a Maputo e de Malabo ao Lomé, por exemplo. Ou seja, o Olimpismo solidário, e fraterno, nos países em vias de desenvolvimento.
E a não perder. ainda “Milongo dos Limôes” e “Mukea”.
A paixão pela escrita envolveu Sequerra logo aos 18 anos, no então “Mundo Desportivo”, jornal de referência nesta área jornalística, cujo título desapareceu há algum tempo, tendo sido seu Redactor Principal
Manteve ao longo da sua vida, pese a preenchida actividade multifacetada, uma paixão pública e assumida pelo Futebol jogado, com a particularidade de ter dado uma atenção prioritária, digamos assim, ao futebol dos escalões jovens. O seu trabalho jornalístico, no período em que este foi mais permanente, reflecte com evidência, um trabalho insano de análise e de promoção dos jovens futebolistas que despontavam, ao tempo das suas atentas observações. Muitos desses atletas ficaram-lhe a dever apoio, conselhos e soluções para os seus futuros profissionais. Nos vários jornais nacionais, desportivos e/ou generalistas, noutras publicações também estrangeiras, ou na Imprensa Regional, onde David Sequerra publicou um acervo valioso de textos, manteve este tema como assunto recorrente.
Do seu currículo consta que foi Director, durante alguns anos, de “O Sesimbrense”, em data mais recente, após se “refugiar” no pacato lugar da Cotovia, mas também emprestou a sua palavra escrita ao “Sem Mais”, Concelho Vila Velha de Ródão.
Campeão europeu com o futebol júnior
Não admira, pois, que essa sua atenção, criteriosa e metódica, pelo futebol jovem tenha sido reconhecida ao mais alto nível, com a indigitação de David Sequerra para seleccionador nacional de Futebol, no escalão Júnior, cargo que ocupou com agrado e sucesso, entre 1961 e 1971,ficando com o seu nome ligado ao primeiro título Europeu do nosso futebol jovem, em 1961,com uma equipa onde José Maria Pedroto era o treinador de campo. Mais tarde, a este nível, trabalhou com Peres Bandeira, este como treinador de campo (1968-1970).
Sequerra recebeu em 2012 a medalha de Mérito Desportivo, atribuída pelo Governo da República Portuguesa, tendo sido consagrado no ano anterior como a “Personalidade do Ano”, pela Confederação do Desporto de Portugal (CDP). Ainda em 2011,por ocasião do cinquentenário daquela conquista, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) homenageou-o, em público, ao intervalo do encontro Portugal–Noruega, apuramento para o “Euro”2012.
No ano imediato, a organização do famoso Festival de Futebol Jovem, denominado por “Torneio de Toulon”, distinguiu David Sequerra pelo seu recorde de presenças, desde a primeira edição, em 1967.Muitas crónicas e comentários, sobre esta histórica iniciativa, em solo francês, assinou David Sequerra na Imprensa portuguesa e também em várias publicações estrangeiras. Peças de consulta obrigatória, por simples curiosidade, ou para quem esteja envolvido nesta temática.
Foi homenageado, também, pelo COP e pelo Panatlhon Clube de Lisboa.
David Sequerra deixou-nos na madrugada do dia 14 de Janeiro 2016, no momento em que registava o derradeiro internamento (dos vários ocorridos, nos últimos meses de 2015), no Hospital de São Bernardo, em Setúbal. A urna, com os seus restos mortais, (esteve momentaneamente coberta com o estandarte do CNID) foi velada na capela de Sesimbra e seguiu, na manhã de 15 de Janeiro 2016, para o crematório da Quinta do Conde, actos fúnebres que suscitaram, junto de sua Família, a solidariedade presencial de muitos amigos, nomeadamente de antigos futebolistas, antigos e actuais dirigentes desportivos, e também de Vítor Serpa, director do diário “A Bola” e presidente da AG, do CNID–AJD, António Magalhães,director do jornal “Record” e vice-presidente do CNID–AJD, e Murillo Lopes, secretário-Geral do CNID–AJD.
Aos familiares e amigos de David Sequerra o CNID–AJD manifesta os votos do mais profundo pesar. Descanse em paz, campeão!