- Congresso do CNID,ISMAI,Porto
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O programa, composto por dois painéis, congregou as atenções de alunos, docentes, treinadores, atletas e ex-atletas – a presença amiga de Fernanda Ribeiro, por exemplo, foi muito saudada – de dirigentes desportivos e de alguns jornalistas (poucos, na assistência).
O programa proposto congregou todas essas atenções e suscitou um debate vivo, muito participado, aqui e ali com polémica quanto baste, polémica nas opiniões ou divergências de perspectivas e/ou de conceitos, vivacidade e livre expressão que acabaram por contribuir para o sucesso evidente desta iniciativa. Na sequência, aliás, recordemos um simpósio internacional que os actuais dirigentes do CNID, no âmbito dos seus 50 anos de existência, já haviam promovido na segunda quinzena de Novembro 2015, e que teve por cenário o auditório da Câmara Municipal de Lisboa, existente no Fórum Picoas.
50 anos com gente de “alta condição”
O primeiro Painel projectado no ISMAI foi assim titulado: “Ética no Desporto — os Media como Veículo de Formação” e o tema foi apresentado, então, por José Neto, docente da casa, também conhecido por integrar equipas técnicas do futebol sénior do FC Porto com José Maria Pedroto e Artur Jorge, por exemplo. Uma intervenção apaixonada por quem passou, e passa, a sua vida a formar jovens e adultos, melhorando-os ao incutir-lhes os máximos valores e os princípios indeclináveis da lealdade e do fair-play, numa luta insana pelo equilíbrio físico e mental do homem e da mulher, do praticante desportivo, do técnico ou do dirigente.
Moderou o radialista Pedro Azevedo (Rádio Renascença) que teve a seu lado António Magalhães, director do diário desportivo Record e vice-presidente do CNID/AJD, José Carlos Lima (coordenador do Plano Nacional da Ética no Desporto–PNED), os treinadores José Magalhães (Andebol), Rui Borges (Natação) e Paulo Neta (Basquetebol) e a ginasta Cristina Gomes.
Cabe aqui, então, destaque para a reflexão deixada por Augusto Baganha, quando o presidente do IPDJ, antigo praticante federado de basquetebol, sublinhou que fazia “um balanço muito positivo do contributo dos media desportivos ao longo das últimas cinco décadas” enfatizando, depois, a ideia que ele próprio beneficiou na sua formação, enquanto atleta e como cidadão, na vida de todos os dias, do contributo de muitos jornalistas que conheceu, cuja informação que foram produzindo ajudou a formar não só os vários agentes desportivos como contribuiu, decisivamente, para o desenvolvimento desportivo, generalizado. O mesmo se aplica, é evidente, aos profissionais da Comunicação Social que se encontram hoje no activo.
Painel 1De resto, um dos nossos ilustres anfitriões, José Azevedo, deu-se à curiosidade de pesquisar notas sobre a génese do CNID e encontrou, exactamente, uma síntese histórica desenhada por Fernando Soromenho, onde este fundador do CNID salientou o facto de nesses idos anos sessenta os jornalistas que operavam na área do Desporto serem “desconsiderados pelos próprios pares”. É verdade e, também por isso, em sinal claro de desagravo – diremos nós – valeu a pena chegar até aqui porque, como aludiu José Azevedo “os jornalistas são gente de alta condição, e que merece todo o nosso respeito”.
António Magalhães em vários momentos, oportunos, aproveitou para dissecar sobre o impacto dos media na opinião pública, a capacidade e a responsabilidade que convoca a Comunicação Social para a formação do adepto do espectáculo desportivo, para além da formação de outros agentes desportivos, com relevo para a dos atletas.
Augusto Baganha, entretanto, promoveu um tópico interessante, ao referir que a crescente importância da Comunicação Social no acto de formar, pressupõe uma informação cuidadosa, ou seja, respeitadora dos princípios deontológicos e dos valores da cidadania, evitando os perigos que um “noticiário desportivo inflamado”, neste quadro de abordagem do tema, possa repercutir-se na exaltação violenta dos ânimos.
Projecto editorial sem futebol?
“A Informação e Opinião – o papel do Jornalista e do comentador desportivo” foi o mote que dominou o segundo painel, neste encontro no ISMAI, e serviu para garantir novo debate muito vivo e interessante, moderado por António Florêncio, presidente da Direcção do CNID/AJD. Na mesa sentaram-se os jornalistas Manuel Queiroz (Antena 1 e TVI), Hugo Gilberto (RTP), Pedro Candeias (editor de Desporto do semanário “Expresso”), Luís Graça (treinador, antigo praticante de andebol) e Murillo Lopes (jornalista, já aposentado, secretário-geral do CNID/AJD).
Luís Humberto Marcos, docente no ISMAI, fora convidado para introduzir o tema e começou por perguntar, em “tom provocatório”, digamos, para agitar consciências e despertar opiniões controversas: “Não será possível ter uma sociedade mais desportiva e menos futebolística?”.
Em momento anterior, e ainda no espaço reservado ao Painel 1, já Humberto Santos, Presidente do Comité Paralímpico de Portugal, registe-se a propósito, havia tecido críticas relativamente ao que, em sua opinião, seria o “favorecimento” das decisões editoriais ao futebol “em detrimento”, de uma divulgação “mas alargada” de matérias relacionadas com as restantes práticas desportivas federadas.
Manuel Queiroz e Pedro Candeias, tal como fora assegurado, anteriormente, por António Magalhães argumentaram no sentido de desmistificar a “teia” da velha e relha “dicotomia”. Os tempos mudaram, a Comunicação Social sofreu alterações avassaladoras, Portugal mudou, o Desporto, em termos gerais, também mudou.
Painel 2
Dois contributos muito curiosos que devemos realçar: Hugo Gilberto sublinhou que no último ano a RTP dedicou “mais de mil horas” a “directos” ou “diferidos” nas ditas “modalidades” e apenas 50 horas, no mesmo quadro, ao futebol. Observou, também, que do seu ponto de vista “certos painéis de comentário televisivo”, no que ao debate desportivo diz respeito, devem ser olhados como programas de “entretenimento”. Gilberto manifestou-se “incomodado”, entretanto, com o facto de “não conseguir distinguir aqueles que não são adeptos, mas também não são comentadores”.
Luís Graça, por seu turno, lançou um repto inesperado, ao fecho de uma tarde de debate muito participado: “Por que razão o Estado não financia um projecto editorial só destinado às modalidades?”
E quanto a nós será de elementar justiça deixar uma palavra de gratidão a Teresa Figueiras, antiga campeã da Natação portista, actual docente e directora do Departamento de Ciências de Educação Física e Desporto, no ISMAI e a Mário Gouveia, director do Departamento de Eventos do ISMAI, pelo profissionalismo demonstrado no apoio a esta iniciativa do CNID, numa parceria com o IPDJ/PNED e ISMAI e pela forma amiga como nos receberam. Gratidão extensiva, naturalmente, a todos o(a)s funcionário(a)s do ISMAI, destacado(a)s para nos ajudar a resolver questões de logística, ou outras, que uma empreitada desta responsabilidade sempre acarreta…