Historial

Desde 1966

O CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto foi criado em 1966 e tem uma história que lhe confere amplos motivos de orgulho.

Alves dos Santos, Artur Agostinho, Mário Zambujal, Fernando Soromenho, Manuel Mota, Vítor Sérgio, Mário Cília, Vasco Resende, Carlos Pinhão, Vítor Santos, Aurélio Márcio, são alguns dos nomes que, ao correr da pena e sem qualquer alinhamento especial, fizeram parte dos primeiros Corpos Sociais do Clube Nacional da Imprensa Desportiva. Clube, porquê? Porque, nos anos sessenta, o poder em Portugal tremia quando ouvia substantivos como Associação, Sindicato ou qualquer outra coisa que pudesse ameaçar um sistema que não primava, propriamente, pela abertura das ideias. E “Clube” foi o que se conseguiu arranjar na altura…

O CNID contava, de facto, com o entusiasmo e a dedicação das maiores figuras do jornalismo desportivo português, sendo uma experiência extraordinária relermos um escrito do saudoso Fernando Soromenho, o primeiro presidente:

“O CNID terá sido «fecundado», em Tóquio, onde me apercebi da importância da AIPS ao mesmo tempo que enfrentámos (eu, o Alberto Freitas, o Artur Agostinho, o Henrique Miranda e o António Cacho) vicissitudes de vária ordem, visando conseguir os livre-trânsitos essenciais, para execução do nosso trabalho jornalístico. Éramos, aliás, os únicos portugueses encarregados dessa missão.

Numa célebre sessão em que compareceram todos os jornalistas que a Tóquio se haviam deslocado, eu, como chefe do reduzido naipe lusitano (os meus colegas assim o entenderam, promovendo-me…), esgrimi o melhor que me foi possível para defender o que se me afigurava digno de ser defendido, ou seja o direito a poder informar sem nenhuma limitação o que era, de resto, o objectivo de quantos se encontravam no Japão e que, na circunstância não eram turistas. O esfíngico dirigente japonês, no topo dos Serviços de Imprensa dos Jogos Olímpicos, ouviu, sem pestanejar, os meus argumentos, proferidos em francês, língua que parecia não perceber, mas que um intérprete ajudava a entender. Mais tarde, concluídos os Jogos, solicitou através de um emissário, a minha presença no seu gabinete e então, expressando-se com fluência na língua de Voltaire, «fez as pazes», selando o pacto com a oferta de um bom relógio o que retribui à falta de outra coisa, com um «crachat» que me fora dado, em Lisboa, pelo Comité Olímpico Português.

Na reunião a que atrás me reporto algo consegui quanto a uma maior concessão de livre-trânsitos, e para isso muito contribuiram os representantes da AIPS, que de igual modo, agiram de lanças em riste.

Sete meses volvidos, em Abril de 1965, voltei a sentir a influência da AIPS, em Budapeste, onde me desloquei para realizar a reportagem do jogo Geor-Benfica, primeira mão de uma das eliminatórias da Taça dos Campeões Europeus. Antes acompanhara a selecção nacional nos jogos que efectuou, em Ankara e Bratislava. Desta vez foi o acaso (ou o destino?) que me colocou perante um congresso da AIPS, na altura reunido precisamente no hotel onde me alojara.

Félix Lévitan, figura de proa do jornalismo francês e Ramon Melcón, grande amigo dos portugueses, tanto insistiram comigo que acabei por assistir a uma das sessões do referido congresso, onde fui especialmente saudado tanto pelo colega francês, que era Presidente da AIPS, como por Melcón, Vice-Presidente e profundo conhecedor do valor do jornalismo desportivo português – os sem profissão reconhecida oficialmente – quase idêntico ao dos espanhóis. Ambos me estimularam a pugnar pela formação, em Portugal, de um organismo de classe para assim ser possível o ingresso na AIPS.

Nada prometi por não ignorar os obstáculos que existiam por parte do Sindicato dos Jornalistas, onde pontificavam certas figuras que consideravam o organismo como coutada sua, ao mesmo tempo que tinham os jornalistas desportivos como gente de baixa condição no exercício profissional. Alguns dos opositores, coitados, eram teimosos na sua intransigência, como se fossem detentores de privilégios de serem importantes, só eles, quando a questão era de outra índole. Adiante…

Lévitan e Melcón escreveram-me várias vezes e o primeiro informou-me da realização em Helsínquia, do Congresso da AIPS, de 13 a 18 de Junho de 1966, ano do «Mundial» em que Portugal se classificou no terceiro lugar e que acabou por contar com a presença de apreciável número de jornalistas portugueses abrangidos já pelo poder da AIPS.

Na primeira reunião, estiveram presentes Artur Agostinho (Record), Vítor Santos (A Bola), Vasco Resende (O Norte Desportivo) e Couto e Santos em representação de Manuel Mota (Mundo Desportivo). Foi em 14 de Maio de 1966, numa das salas da Casa da Imprensa, onde dei conta do recado, acedendo prosseguir sozinho na qualidade do tal elo de ligação entre a AIPS e os jornalistas desportivos portugueses, depois de terem defendido, todavia, a tese de que todos eram dignos de figurarem na mesma família.

Também na Casa da Imprensa, seguidamente, se realizou, em 21 do mesmo mês, a primeira reunião magna que já englobou todos os representantes dos orgãos de Informação num total de 64 jornalistas. Foi ampla e variada a troca de impressões, tendo sido aprovada por aclamação a nomeação da minha pessoa para presidente da Comissão Delegada a qual englobou Vítor Santos (A Bola), Manuel Mota (Mundo Desportivo), Amadeu Rodrigues (A Voz Desportiva), Mário Cília (Rádio), Alves dos Santos (Televisão), Alberto Freitas (Imprensa Diária), Diamantino Faria (Ultramar) e Boavida Portugal (Consultor Jurídico). Para Presidente de Honra foi designado Ricardo Ornelas (Diário Popular).

Uma semana depois, ou seja no dia 28, teve lugar nova reunião da qual saíu a Comissão Organizadora: Fernando Soromenho, Vítor Santos, Alves dos Santos, Mário Cília, e Manuel Mota. Um ror de sugestões e muito entusiasmo. E coube-me o encargo de elaborar um projecto dos estatutos a fim de ser submetido à apreciação da AIPS, em Helsínquia.

Este diploma foi, contudo, objecto de análise por parte de todos os membros das nossas duas comissões que fizeram as rectificações que entenderam. Da parte do Director-Geral, Dr. Armando Rocha, logo se verificou, de início, a mais viva simpatia pela iniciativa desde que na designação do organismo a criar não figurassem as palavras «Sindicato» e «Associação». Todos acatámos a limitação, não sem certo constrangimento, mas como o tempo urgia a ideia foi por diante (e que remédio…) tendo colaborado na redacção da nossa lei estatutária o Dr. João Athaíde, Inspector da D.G.D., cujo empenho foi louvado.

E chegou o grande dia. Num enorme salão, centenas de olhares postos em mim. E, depois, uma ovação, com todos os jornalistas de pé. Não tenho pejo em declarar que chorei e aquele momento, que jamais esquecerei constituiu para mim um dos mais emocionantes da minha vida. Queria falar e não podia. Finalmente, os jornalistas desportivos portugueses obtinham o primeiro reconhecimento oficial de um importante organismo internacional.

Estava solucionada a questão dos livres-trânsitos no «Mundial» de Inglaterra, sem a intervenção de qualquer entidade patronal, mas faltava ainda muito caminho a percorrer para se oficializar, em termos definitivos, a existência do CNID, em Portugal, o que só veio a concretizar-se em Março de 1967, facto que provocou um decréscimo na motivação tanto mais que era já tido como quase certo o acesso no organismo sindical da classe dos jornalistas.

É de recordar a constituição dos primeiros corpos gerentes eleitos na Casa da Imprensa e depois, empossados na sede da Federação Portuguesa de Futebol em cerimónia muito concorrida:

Assembleia Geral: Alves dos Santos (Presidente), Artur Agostinho (Vice-Presidente), Luís Alves e Fernando Sá (Secretários) e Mário Zambujal e Viriato Mourão (suplente).

Direcção: Fernando Soromenho (Presidente), Manuel Mota (Vice-Presidente), Vítor Sérgio (Tesoureiro), Mário Cília e Vasco Resende (Vogais) e Diamantino Faria e Carlos Pinhão (Vogais suplentes).

Conselho Fiscal: Vítor Santos (Presidente), Jorge Monteiro (Secretário), Aurélio Márcio (Relator), Guita Júnior, Francisco Camilo e Manuel Figueira (suplentes).”

E foi assim que o CNID iniciou o seu percurso, que conta já com 50 anos. Com momentos melhores e outros piores, sempre com a dedicação dos membros dos diferentes Órgãos Sociais e da maioria dos seus associados, na maior parte do tempo o seu único suporte.