EUSÉBIO NA 1ª PESSOA FALA DA POESIA DOS GOLOS E MAGIA DO FUTEBOL

Ver e ouvir o Senhor Eusébio da Silva Ferreira, na primeira pessoa, a falar da arte poética dos golos – onde ele foi, porventura o melhor, ou, pelo menos, um dos seus mais  exímios cultores – e a manifestar-se sobre a magia do impossível que o futebol encarna na perfeição –  a transcendência e a superação, ou vice-versa, que ele protagonizou como ninguém foi um privilégio raro para quem privou com ele em vida.

Mas é possível, nesta data, chegar a milhões de pessoas, numa  sala de cinema, próxima de cada um de nós, graças à perspicácia do cineasta Filipe Ascensão que ao longo de três anos pôde e soube construir, no decurso de hora e meia em “Eusébio – história de uma lenda” um  documento notável, não só para os acervos imemoriais da História do Desporto, mas também um notável trabalho que poderá sugerir estudos multidisciplinares nos domínios, por exemplo, do social, do psicológico e atrevemo-nos até, da ciência política. E porquê? Porque o Desporto em geral, o Futebol em particular, pertencem ao domínio das Ciências Humanas e o nosso Eusébio, universal, foi sem dúvida um humanista!

O menino pobre da Mafalala, eternizado mais tarde como o Rei de todos os pedestais, lembrou-se aos 71 anos, entretanto, de nos deixar entristecidos e a sangrar de saudade, naquele soturno dia 5 de Janeiro 2014.

“Magagaga” com apoteose

Mas satisfeito ficou ele quando soube, lá longe, que o auditório principal do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, ficou lotado e com a numerosa assistência a vibrar, de forma calorosa, na celebração da ante-estreia do filme, do seu filme.

Antes de nos deixar Eusébio “intimou” Filipe Ascensão para lhe garantir que tudo faria (o realizador) no sentido de a estreia, ou ante-estreia, de “Eusébio — história de uma lenda” fosse uma apoteose.

Assim foi na mágica noite de 23 Março 2017. Tinha de ser porque Eusébio, cidadão do Mundo, é um património global. E o Filipe também se sentia feliz, como transmitiu de viva voz, nas presenças significativas do Primeiro Ministro António Costa, de Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, do Ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues, dos campeoníssimos Rosa Mota e  Carlos Lopes. E de muita, muita e diversificada gente que independente das suas funções e/ou representatividade se encontrava ali de livre, e espontânea, vontade  para se associar a um  evento especial que a família do Rei (com a matriarca Flora, visivelmente emocionada), o Sport Lisboa e Benfica, a realização/produção Ascensão Productions/NOS Audiovisuais souberam projectar com dignidade e honrando todos os envolvidos.

Claro que em foco também, no CCB ou no écran estiveram Manuel Vilarinho, Luís Filipe Vieira, Rui Vitória, Humberto Coelho, António Simões, Toni, José Augusto, Shéu Han, Rui Costa, António Veloso, Hilário da Conceição, Luís Figo, Cristiano Ronaldo, Bobby Charlton, entre outros, O “magagaga” (alcunha africana,  como revelou o seu conterrâneo e amigo de infância, Hilário) referia-se, no dialecto ao “indivíduo que subia alto, que trepava”.

Eusébio vestiu as camisolas do Sporting de Lourenço Marques (actual Maputo), do SLB “o meu clube do coração”, afirmou ele, convicto, da selecção nacional A, da selecção militar. Mas ele nascido no chão africano de Moçambique, que tanto amava, projectou-se a partir de Portugal, o país que o adoptou, que fez parte da sua dupla cidadania, e que ele tanto respeitava. “Eu tinha que ajudar a selecção portuguesa”, dizia com ênfase, sempre que evocava o “Mundial” 1996, em Inglaterra!