Em memória de Fernando Peres

Fernando Peres, referência do futebol português, campeão também no Brasil, faleceu no domingo, aos 77 anos de idade, após internamento no Hospital Egas Moniz, em Lisboa.  O funeral realizou-se ontem.

Profissional de eleição, Fernando Peres espalhou o perfume do seu talento futebolístico, na década 1960/70, pelos vários palcos onde atingiu notoriedade assinalável, em Portugal e no Brasil.

Homem de espírito livre e determinado, Peres foi agora derrotado pela vida que tanto amava. Deixou, por isso, em cada um dos seus muitos amigos um vazio estranho, porque a sua vocação para a amizade  também o enobreceu.

Foi no Belenenses que Fernando Peres, natural de Algés, despontou para as luzes da ribalta, estreando-se pela equipa principal dos “azuis” do Restelo em 1960.

Centro-campista com uma rara visão de jogo, senhor de passe milimétrico, era dotado de um pé-esquerdo como existiram poucos no mundo da bola. De Cruz de Cristo ao peito alinhou durante 103 jogos e obteve 44 golos.

Cinco anos depois ingressa no Sporting. Com a camisola do clube de Alvalade, ao longo de seis temporadas, participou em duas centenas de jogos e marcou 69 golos. Distinguiu-se, também, como um dos mais influentes jogadores de equipa, nomeadamente ao tempo do treinador  Fernando Vaz.

Curiosamente, a sua permanência em Alvalade foi repartida (ou seja, 1965/66 a 1967/68 e 1969/70 a 1971/72 ), porque em 1968/69, vestido de negro e embalado pelo sortilégio da capa e da batina que povoavam a Lusa Atenas, Fernando Peres representa a Associação Académica de Coimbra e joga no Jamor a final da Taça de Portugal.

  • A brilhar também no Vasco da Gama

Na sequência de um diferendo com o Sporting, Peres vê-se entretanto suspenso pela FPF, por ter defendido os seus direitos “em tribunais civis” e opta (sem jogar durante o ano de 1973), pela carreira de treinador no clube de Peniche. Mas com o 25 de Abril, a “lei de opção” que “prendia” os jogadores aos clubes acaba e ele aceita, então, alinhar no campeonato brasileiro pelo Vasco da Gama, histórica agremiação desportiva e cultural dos portugueses no Brasil, onde se sagra campeão, em 1974.

Regressa a Portugal e veste de novo de azul e branco, mas com as cores do “dragão”. Pelo FC Porto, em 1974/75, completa 18 jogos e marca dois golos.

Mas foi sol de pouca dura. Depois desta passagem pelas Antas, decide viajar novamente para o  Brasil, onde volta ao sucesso. Campeão estadual, desta feita no Sport Recife (Pernambuco), clube que representa durante duas temporadas.

Ironia das ironias: a grande carreira do virtuoso Fernando Peres termina num pequeno clube brasileiro, o “Treze”, de Campina Grande, em 1976.

  • Em destaque na “MiniCopa”

Fernando Peres deixou também o seu nome e talento ligados à seleção nacional, sendo certo que – embora integrando a equipa de os “Magriços” que obteve o 3.º lugar no “Mundial” de Inglaterra 1966 – não foi chamado a nenhum jogo pela dupla Manuel da Luz Afonso (seleccionador)/Otto Glória (treinador de campo).

No entanto, registou 27 presenças de “quinas” ao peito e brilhou com intensidade durante a participação da selecção portuguesa no torneio comemorativo da Independência do Brasil, em 1972, que ficou para a História com o nome de “MiniCopa”, que terminou com um importante 2.º lugar conquistado com brilho.

Como treinador,  e para além do Peniche, Fernando Peres passou pela União de Leiria, Vitória de Guimarães, Estoril-Praia, Sanjoanense e Atlético Clube de Portugal. Integrou, ainda, uma equipa técnica do futebol sénior leonino, liderada pelo sul americano Pedro Rocha.

O CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto apresenta  votos de sentido pesar à família de Fernando Peres, aos seus amigos, a todos os clubes que representou e às Associações e Federações do futebol a que Peres esteve vinculado.

Paz à sua alma.