AIPS 3/ Jornalistas ou robôs?

 

Um dos painéis interessantes do 84º Congresso da AIPS, em Roma, teve por tema “O futuro do jornalismo desportivo na era dos robôs” e em que participaram Juan Ignacio Gallardo (Marca), Shinsuke Kobayashi (Kyodo News), Vincent Amalvy (AFP), Lee Martin (Getty Images) and Valerio Piccioni (Gazzetta dello Sport) e o moderador foi o secretário-geral da AIPS, Jura Ormec.

O diretor da Marca acha que “neste momento ninguém sabe para onde vai a nossa profissão mas é preciso refletir e ter um plano de ataque que se vai ajustando em cada momento porque podemos incluir tudo, das várias plataformas, e até um pouco de entretenimento, porquea publicidade quer números e devia querer qualidade”. Mas há um coisa, sublinha Gallardo, que será decisiva: “Continuarmos a fazer o nosso trabalho e diferenciarmo-nos da propaganda. As federações e os clubes mandam-nos propaganda, nós temos que fazer informação. Não podemos nunca esquecer isso e temos que ser claros em traçar a fronteira. De resto, podemos utilizar tudo, todos os meios, porque nesta altura não sabemos o futuro, mas nunca perder de vista que fazemos informação e temos que publicar coisas novas, que as pessoas não saibam e queiram saber”.

A Lee Martin (Getty Images)  perguntaram se estamos a assistir ao fim da fotografia clássica, com câmaras remotas. “A resposta é de certeza que não. A tecnologia das câmaras remotas é tirar fotos de sítios onde os seres humanos não podem ir, do fundo da piscina, do tecto. E a foto é sempre sobre apanhar o instante e isso só se faz com a mão e a cabeça humana”.

Vincent Amalvy (da agência noticiosa AFP) que no Qatar estão a planear instalar “4o robôs nos tetos dos estádios, um grande investimento para algo novo. Mas quem seleciona o ângulo, a image, é o fotógrafo. Claro que haverá técnicos a ajudar, mas a decisão será sempre dos fotógrafos que, aliás, adoram tecnologia. Numa conferência de Imprensa podemos fazer tudo com o fotógrafo, mas no desporto fazemos cada vez mais fotos de ângulos em que é impossível estar o fotógrafo”.

Valerio Piccioni (Gazzetta dello Sport) fala de palavras-chave: “Rapidez, simplicidade, profundidade. Se pudermos usar as duas primeiras sem perder a terceira podemos fazer bom jornalismo. Há imensos algoritmos e dados, mas o deporto é um campo de emoções e é descrevê-las, contá-las, é o trabalho do jornalista. Pergunto a mim próprio se a cena que vimos há dias, com Nadal e Federer a chorar e de mãos dadas pode ser contada por um robô ou por Inteligência Artificial. E isso é fundamental, ter essa visão do jornalista, ver e contar histórias que outros não terão percebido na sua inteireza. A Inteligência Artificial pode substituir a visão única de um jornalista? Não sou capaz de dizer que não, mas também não sei dizer quando”.

Valerio Piccioni acha que é preciso “um new deal, um novo acordo, entre os atletas e os jornalistas, para preservar o mundo real e não entrar tudo na ficção, ou no editado que eu te dou para veres só o que eu quero que tu vejas”. Os atletas “não podem fazer um by pass ao jornalismo real, através das suas próprias estruturas”, porque não serábom para eles próprios.

Juan Ignacio Gallardo diz que os jornalistas “não podem ter medo da tecnologia, têm que ser capazes de a comandar e ganhar com isso, porque não podemos querer ganhar audiências com outras coisas que não sejam jornalismo. Não podemos ser os mais rápidos, se calhar, mas podemos ser os mais confiáveis e isso é um valor”, disse o diretor do jornal Marca,