Na sua visão isso deve-se a que “em Novembro/Dezembro, mês do Mundial, a coisa ganha-se, para os Media, precisamente no Campeonato do Mundo e por isso não quiseram pôr isso em causa porque podem ter menos informação e ninguém carregou o caso como devia”. Ou seja, apelou a que o Código Deontológico dos Jornalistas tenha que funcionar mais como guia do que deve ser o Jornalismo. Foi mesmo meridianamente contra o facto de muitos comentadores, ou seja, não jornalistas, a serem editores de programas de televisão, ou seja, decidindo os alinhamentos do programa.Uma perversão.
Fé no Jornalismo
João Pedro Mendonça vem do lado do Jornalismo e deu logo o exemplo do que se tinha passado no dia anterior no jogo entre Portugal e Uruguai do Mundial, em que aos teleespetadores tinham sido negadas as imagens de um espectador a atravessar o campo, em nome do “paternalismo editorial”. “Mas a RTP tinha um jornalista no campo, o João Miguel Dias, que relatou imediatamente que se tratava de alguém que tinha no corpo dizeres contra a guerra da Ucrânia e a favor da liberdade das mulheres no Irão e sobre direitos humanos”. Falou da diferença da percepção e realidade, perguntando aos presentes se tinham ideia da modalidade que, até Junho, tinha tido mais transmissões diretas no serviço público e espantou todos ao dizer basquetebol. Fez, ainda assim, com todos os problemas que existem, uma profissão de fé no Jornalismo e da dedicação dos Jornalistas. “Mas tendo em conta as condições peçam-me o impossível, mas não esperem que eu o possa dar”.
Já Manuel Brito, partindo do dito inglês “if it bleeds, it leads” (‘se tiver sangue vai estar à frente”), disse-se um apaixonado pelos jornais e assumiu–se como “fonte”, porque muitas vezes fala com os Jornalistas para lhes dar informação porque se as pessoas fizerem isso sem mentira, o que é publicado é seguramente melhor. Ou seja, também deixou uma mensagem de respeito pelos jornalistas. Falou dos problemas mais recentes com o doping no ciclismo, “o grande escândalo nacional e até mundial na modalidade” que a Imprensa relatou com verdade, Disse também que o futebol “hoje não é um problema [para a antidopagem] e apontou como causas o facto de os jogadores “terem medo de ser apanhados e deixarem de ganhar os milhões que ganham, além de que é muito mais profissional o acompanhamento médico mesmo de escalões etários mais baixos, que desaconselham uma das portas de entrada no doping que são os suplementos nutricionais.
Prof. Thiago Santos (Universidade Europeia) e Prof. João Pedro Monteiro (CM Lisboa) no uso da palavra
Jorge Castelo começou por ir às origens da informação – “porque é que eu quero notícias? Porque sou curioso, sou humano”. Confessou que a sua colaboração com a Bolatv tem muito de afetivo – “foi no jornal A Bola que eu aprendi a ler futebol”. E assume que faz como o Marques Mendes “porque ao mesmo tempo que comento também dou notícias”, o que entende ser uma mais-valia, O antigo treinador de futebol de vários clubes teve ocasião ainda de dizer que “os jornalistas não podem ser especialistas de tudo, é impossível”. Jorge Castelo também pede criatividade e audácia para solucionar problemas – “já publiquei 14 livros e a certa altura o editor estava com duvidas, eram muitos livros e eu e outro sócio fizemos uma editora”. E um dos livros custava 115 euros, “o meu sócio estava com dúvidas, mas esgotou – é preciso arrojo às vezes”.
Já João Pedro Monteiro pareceu acreditar menos no futuro dos jornais desportivos. “Estamos num momento de viragem da sociedade e provavelmente os atuais jornais desportivos vão desaparecer” Para o dirigente da CML, “a digitalização e a questão energética fazem com que este seja o momento de uma grande viragem e da necessária adaptação”. Falou também da dependência que o setor hoje mostra e que não permite aos jornalistas desempenharem a sua profissão nas melhores condições. “Confio nos jovens, porque há um panorama que vai mudar. O João Pedro Mendonça disse que o básquete é que tinha mais transmissões este ano, mas não acrescentou uma coisa importante, é que o básquete paga para ser visto, para passar na televisão”.
A sessão, que teve muitos alunos a assistir, além de professores e até o presidente da Federação de Atletismo, Jorge Vieira, além de sócios e dirigentes do CNID, como Francisco Paraíso e Murillo Lopes, fechou com os agradecimentos do Prof. Thiago Santos, agradado com “o nível que este painel permitiu à discussão”.