No mundo de hoje, não faz sentido execrar o investimento estrangeiro. Em qualquer setor e no dos Jornais também. É um facto da vida, os capitais procuram boas ideias para gerarem proveitos e lucro com que possam pagar aos seus investidores e aos seus empregados.
O setor dos jornais, e nomeadamente dos jornais desportivos, está em crise em quase todo o mundo e nomeadamente na Europa. Há um modelo de negócio em crise, que tem a ver com o papel impresso, e ainda ninguém conseguiu aplicar um novo e rentável modelo. Andam muitos à procura dele, outros já desistiram. Não é fácil. E a Imprensa desportiva também faz falta à democracia, porque o desporto é hoje uma parte importante da economia e da sociedade e precisa de quem também faça o escrutínio de todo o sistema, que movimenta muito dinheiro – público e privado – e muitas emoções. Ou seja, não se pode olhar para a Imprensa generalista e deixar de fora a desportiva, quando se tratar dos grandes temas numa perspetiva de regime.
Todos procuramos esse modelo de negócio novo, que dê uma vida nova a empresas habituadas a uma estabilidade ilusória. Mas uma das receitas que já provou ser errada foi pôr fora gente que tem experiência, memória, sabe o que é o jornalismo. Não é possível fazer Jornalismo sem Jornalistas, não é possível encontrar um modelo de negócio novo sem gente que o compreenda. Seja qual for esse novo modelo, a maéria-prima essencial será a mesma – notícias, reportagens, opinião. Numa palavra: Jornalismo. Se o deitarem fora, podem inventar o que quiserem, mas ninguém vai acreditar que tem no Jornalismo a sua base.
Defendo há muito que os produtos Jornalísticos tem um ADN próprio – sejam jornais, rádios, televisões, ou mesmo produtos noutras plataformas. Ora, o ADN não se consegue mudar profundamente. Nunca vi um jornal de referência passar a tablóide e os leitores aderirem; idem para televisões ou rádios; idem para o exato contrário – de um tablóide conseguir fazer um produto de referência ou um jornal político. Não cola, não faz sentido, cria confusão.
Em A Bola, a nova propriedade está a fazer uma reestruturação. Ou seja, despedir gente, sobretudo Jornalistas com mais história na empresa e no Jornalismo. Como se explica acima, não parece um bom caminho se a ideia for continuar a fazer um produto Jornalístico. E resta-nos esperar que seja e que respeite o ADN de A Bola, que tem história de grandes nomes e de grandes feitos. História de grandes nomes do Jornalismo, de Vitor Santos a Carlos Pinhão, de Homero Serpa a Vitor Serpa, de Aurélio Márcio a Santos Neves e Carlos Miranda, mas também de formação de leitores, quantos e quantos aprenderam a ler naquelas páginas do melhor da Língua Portuguesa.
Manuel Queiroz