O Realizador Ricardo Espírito Santo recebeu finalmente o Troféu CNID Excelência que lhe foi atribuído em 2020 e que distinguiu uma profissão que o CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto normalmente não premeia.
O Realizador e diretor da Terra Líquida Filmes, produtora que fundou em 2008, continua a ter o bichinho de realizar futebol. ‘Pôr o futebol na televisão é uma coisa única. Porque é ali, no imediato, é o momento que dita tudo, Adoro fazer isso e continuo a achar que tenho jeito para fazer isso’.
Nascido a 13 de Agosto de 1960, em Espinho, Ricardo Espírito Santo foi controlador aéreo antes de optar pela realização na SIC, que começava, com Emídio Rangel à frente. Passou pelas televisões todas, realizou o Amo-te Teresa, o famoso telefilme da SIC, documentários, tudo. E muitos jogos de futebol. Era ele que estava ao leme a 25 de Janeiro de 2004, num Gumarães-Benfica, em que o húngaro Miklos Feher tombou inanimado e nunca mais se levantou. RES percebeu cedo que o caso era grave e os planos que deu aos espectadores foram à distância, não intrusivos, numa realização que foi elogiada por toda a gente. Pela sua humanidade, pela forma como respeitou um momento que se vive uma vez na vida. Porque a imagem estava com Feher no momento em que este se vergou, pôs as mãos nos joelhos e caiu. Disse, na altura, que tinha dado ordens para não haver imagens ao perto e que a concorrência não pode justificar tudo.
Em 2020 houve o chamado caso Eriksen, o dinamarquês que tombou inanimado durante o jogo do Campeonato da Europa frente à Finlândia e correu sérios riscos de vida.
Vinte anos depois, RES recebe o nosso Óscar. O futebol hoje joga-se no campo e na televisão, daí a importância do realizador, que tem à sua disposição às vezes mais de 20 câmaras para dar todo o pormenor – e às vezes falham-se coisas importantes. A realização televisiva de um jogo faz parte da realidade do jogo, de como todos o percebemos hoje. Por isso se justifica que o Jornalismo olhe para a televisão e se envolva com os seus pormenores técnicos. Um ‘frame’, às vezes, é o suficiente para o VAR mudar um jogo.
Ricardo Espírito Santo em breve mas significativo discurso direto:
‘Creio que a condição fundamental [para se ser realizador] é amar o futebol. Desde puto que gosto de bola e, creio, esse conhecimento técnico do jogo reverteu em meu favor quando me tornei realizador.
‘Ser dotado de sangue-frio, a pressão em Portugal é desmesurada e o trabalho desenvolve-se a uma velocidade alucinante. Dominar 20 câmaras é de grande exigência profissional.
‘Em certo sentido, a realização de futebol é jornalismo. Isenção, ser fiel ao revelar o que se passa no relvado, nunca ceder a pressões (tive algumas), mostrar os factos e deixar as interpretações para os espectadores. E, a meu ver, assumir também um papel pedagógico, não pactuar com nenhum tipo de manipulação e/ou exploração de certas imagens para cumprir desígnios obscuros.’