Nos 50 anos
do 25 de Abril,
desporto (e mais…)
Por ANTÓNIO SIMÕES
Cabendo, como é da tradição, a Marcelo Rebelo de Sousa entregar da Taça de Portugal de 2023/2024 a Pepe – fê-lo com circunstância que se vira há 50 anos: sentado nos cadeirões da Tribuna de Honra, desta feita, também esteve Luís Montenegro, o Primeiro Ministro que se sabe adepto do FC Porto.
António Oliveira Salazar nunca se dera a tal, Marcello Caetano também não – o Marechal Óscar Carmona e o Almirante Américo Tomás sim: era a eles que, estando em pompa e circunstância, na Tribuna de Honra do Estádio Nacional, cabia, como presidentes da República, consagrar os vencedores da Taça de Portugal. Só que, dessa vez, com Portugal a viver ainda a euforia e o frenesim da democracia conquistada a 25 de abril de 1974, ao PR lá se juntou o Primeiro-Ministro (que deixara de ser tratado como o fora durante os últimos 48 anos: Presidente do Conselho) – e insólito foi que só lá não estivesse o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol…
Por baixo de foto de Vítor Damas com a Taça de Portugal ao alto entre ambas as mãos em que Nuno Ferrari apanhava também o sorriso aberto de António de Spínola e o ar circunspeto de Adelino da Palma Carlos, a manchete de A BOLA desse dia 10 de junho de 1974 era um elogio a rasgar-se no seu clamor: «Sporting a ganhar tudo, como no tempo dos Violinos». Sim, já vencera o primeiro campeonato fechado em democracia – e, ao Benfica conquistou a primeira Taça de Portugal fora da ditadura, a Taça que começara com Eusébio (atirado para o banco, tal como já acontecera nos jogos anteriores com o Farense e o FC Porto) a distribuir cravos vermelhos aos elementos da Banda da Marinha que ao Jamor foram tocar o Hino Nacional, enquanto outros jogadores (e os árbitros também) andaram em virote a atirar cravos às mãos do povo…
NA RTP ESPETÁCULO INTERROMPIDO, NO JAMOR SPORTINGUISTA IRRITADO POR LHE CHAMAREM «LADRÃO DE CASSETES»
A RTP transmitiu o jogo em direto – e horas depois um outro direto colocou Portugal em maior rebuliço do que o rebuliço que se vira no Jamor: estando a transmitir em a Ceia II do Mercado do Povo, espetáculo teatral da Comuna, Mariz Fernandes, delegado da Junta de Salvação Nacional, mandou interrompê-lo porque caricaturava de «forma abusiva» figuras do regime deposto, ofendia a memória do Cardeal Cerejeira e os «sentimentos católicos do povo» – e os comunistas, mais ou menos insinuantes, logo acusaram Spínola (e Palma Carlos) de «reacionarismo» (ou pior…), falando de censura como na «longa noite do fascismo».