O que Artur Jorge tem a ver com suástica na caricatura de Spínola (e com autocarros impedidos de ir para Alvalade…)

Nos 50 anos do 25 de Abril, desporto e mais (3)

Por António Simões

 

Com Américo Tomás (que fora o presidente do Belenenses que lançara o Belenenses à conquista do Campeonato Nacional da I Divisão de 1945/1946, largando o cargo a meio para se tornar ministro de António Oliveira Salazar) destituído pelo golpe de 25 de abril, a 15 de maio de 1974 António de Spínola tomou posse como Presidente da República e, para primeiro-ministro do I Governo Provisório escolheu Adelino da Palma Carlos (que fora presidente da AG do Sporting entre 1946 e 1957 e 1961 e 1962).

António de Spínola nos seus tempos de campeão de hipismo

Achando-o demasiado ligado ao «poder dos grupos económicos», os comunistas forçaram-lhe a demissão. Palma Carlos apresentou-a ao cabo de dois meses, quando o MFA lhe renegou proposta de presidencialização do novo regime. Para o seu lugar foi o brigadeiro Vasco Gonçalves. Era filho de Vítor Gonçalves, o casapiano que, como jogador, estivera, com Cândido de Oliveira e Ribeiro dos Reis na primeira seleção de futebol que Portugal teve; que como treinador, por entre os negócios de cambista, dera ao Benfica o seu primeiro título na Liga (e nunca se escondera admirador de… Salazar).

Com Vasco Gonçalves cada vez mais acamaradado a Álvaro Cunhal e sem que António de Spínola se desfizesse da ideia de resolver a guerra colonial por via federalista (com a transformação das colónias em estados autónomos (independentes talvez depois mas sem pressas ou sobressaltos, dizia-o…)  – do general Spínola logo se soltou sinal de desafio que, obviamente, já nem tinha só enfoque na descolonização: «A maioria silenciosa do povo português terá, pois, de despertar e de se defender ativamente dos totalitarismos extremistas que se digladiam na sombra, servindo-se de técnicas bem conhecidas de manipulação de massas para conduzir e condicionar a emotividade e o comportamento de um povo perplexo e confuso por meio século de obscurantismo político».

«MAIORIA TENEBROSA» E AUTOCARRO DI VITÓRIA

Levados no embalo spinolistas cogitaram manifestação dessa «maioria silenciosa» que revelasse o apoio ao Presidente da República – exortando-se até que do Norte a ela descessem «mulheres a rezar o terço contra o comunismo». Agitando-se em brusco contra-ataque as hostes à esquerda do PS, famosos ficaram os panfletos espalhados pelo MDP-CDE (que teria Artur Jorge como candidato a deputado à Assembleia Constituinte), tratando a «maioria silenciosa» como «maioria tenebrosa» (com a expressão «maioria tenebrosa» a encimar caricatura de Spínola com uma suástica entre medalhas coladas ao peito da farda).

Cada vez mais divididos em campos opostos, a 26 de setembro de 1974 António de Spínola levou consigo Vasco Gonçalves a tourada a favor da Liga dos Combatentes que acabou em confronto espicaçado entre quem deixava a praça e quem, em seu redor, gritava: «O fascismo não passará… O povo diz não à reação…»

 

A TOURADA E OS JORNAIS PROIBIDOS

Antes, ouvindo-se, lá dentro do Campo Pequeno, o brado: «Ultramar! Ultramar! Ultramar!» – o cavaleiro José João Zoio desvelara cartaz de «publicidade à Silenciosa» e, vitoriando-se o Presidente da República, vaiara-se o Primeiro-Ministro. Horas depois, Vasco Gonçalves foi chamado a Belém – e, por entre ordem para que se demitir, constou que Galvão de Melo e Diogo Neto, dois dos mais fervorosos oficiais spinolistas, o agrediram.