CNID na posse de Pedro Proença

Pedro Proença e Luís Campos Ferreira

Foi com o CNID (representado pelo vice-presidente António Simões) entre o rol de convidados que ia de governantes a deputados, passando por futebolistas e presidentes (a que não faltaram Rui Costa pelo Benfica, André Villas Boas pelo FC Porto e Frederico Varandas pelo Sporting) que Pedro Proença tomou posse como presidente da Direção da Federação Portuguesa de Futebol.

Depois de escutar a honra que o presidente da FIFA lhe deu em mensagem especial em português, Pedro Proença marcou a cerimónia com um discurso  que tocou vários importantes pontos do que insinuou vir a ser a sua ação – destacando-se, entre eles, a «centralização dos direitos televisivos» e a solicitação ao governo (representado pelo ministro da Presidência, Pedro Duarte, que o reputou de «líder por excelência») que «diminuísse o IVA que se cobra no futebol», afirmando:
– Se sou capaz de apontar o que temos de melhorar em nós mesmos, permitam-me fazer o mesmo com outas instituições e decisores. Afirmei há uns dias que a FPF não é um partido político. Gostava que isso fosse muito claro. Todos os partidos com representação parlamentar merecem o nosso respeito e serão interlocutores dos nossos anseios. Aproveito para agradecer a presença das vossas delegações. O mesmo se passa com o Executivo liderado pelo Dr. Luís Montenegro. Já aqui garanti durante a apresentação do nosso programa que não seremos escudo para governos nem bala para governantes. Sabemos bem que nem todas as propostas podem ser aceites, mas sabemos que algumas aguardam há anos demais. O virar de página na FPF também nos traz isto: a energia para um tempo novo. Inconformismos com o que ainda não andou. E exemplifico o que exporemos a todos os agentes políticos em detalhe e que podem esperar que não iremos largar. Quem for ver um espetáculo de uma influenciadora de YouTube, ir ver um festival de verão, um concerto, paga apenas 13% de IVA. Desde o início do ano, quem vai a uma tourada paga ainda menos. Pois, assistir a um jogo do Lourosa, do Belenenses, dos Leões de Porto Salvo, do Vitória ou de qualquer outro clube e seleção de qualquer modalidade paga 23%. Basta. Basta disto. Viremos a página, porque chegou a hora de acabar com esta discriminação negativa. E isso parece-me óbvio: negativa sem qualquer justificação, algo que é evidente. Se há poucos meses os políticos foram capazes de terminar com um corte injusto que pendia sobre os seus próprios salários, estou certo que entenderão que chegou a hora de resolver este tema que se arrasta há anos de mais. Sem meias palavras: o IVA dos espetáculos desportivos tem de ser equiparado ao IVA de qualquer outro espetáculo que se desenvolve em Portugal. Não queremos que seja menos, nem mais.

No que tocou à centralização dos direitos televisivos não deixou de ser igualmente contundente:

– Faltam três anos para a concretização dos direitos audiovisuais nas nossas principais ligas. O salto pelo qual tanto lutámos e segue na Liga Portugal, em absoluta autonomia, venha quem vier a dirigir. Agradeço a presença de tantos presidentes de clubes que connosco trabalharam também para que isso acontecesse. Eles sabem. Todos sabemos da importância disso para a nossa competitividade. O que vos peço hoje, neste processo, é simples: nem um passo atrás. A centralização é uma espécie de maioridade sempre adiada. Sem ela, somos uma liga adolescente, sem projeto, sem ambição e sem futuro. Se um de vós domina sozinho todos os anos, serão rei de terra pequena e Portugal precisa de algo maior. Em campo, a cada ano, só ganha um. Cresci toda a vida com uma certa dose de negativismo em redor dos vencedores, em que o discurso se centra tantas vezes mais nos deméritos do que na honra. Tenhamos todos a capacidade de fazer do virar de página algo que não aconteça apenas na Cidade do Futebol, mas também no futebol de Portugal. No futebol de Portugal inteiro. Creio que chegou esse momento, essa hora.

A «união entre os agentes do futebol» não deixou, igualmente, de passar pelas suas palavras desembrulhadas, aqui e ali, de emoção e vigor, num sinal inequívoco de estar ali apontado ao futuro, na promessa do que há de ser a sua ação como 32º presidente da FPF:

– Viremos hoje a página. Temos um programa para executar. Uma equipa para implementar e olhos postos em nós. Primeira palavra é para todos os agentes do futebol. Que a união entre nós seja regada todos os dias. Que a vossa disputa seja só em campo e que esta nova geração de dirigentes não falhe às pessoas e ao país. Mudar pessoas e esperar tudo na mesma é como fazer igual e esperar resultados diferentes. Não sou eu quem tem a responsabilidade única de virar a página. Vários dirigentes que hoje estão aqui têm a capacidade de escrever um capítulo novo. É cada um de vós também um motor indispensável para a mudança, para um tempo de maturidade. Podem esperar exigência e compromisso. Digo-vos: foi o compromisso que assumiram comigo e que me ajudou a estar aqui hoje. Futebol é um jogo de equipa. Sozinhos não ganhamos nunca. É um facto que Benfica, FC Porto e Sporting são os nossos clubes maiores, mas o Braga já desafia a lógica tripartida e outros o seguem porque o topo da pirâmide exige capacitação, competência e espírito coletivo. Portugal é à data de hoje o sexto melhor país em pontos nas provas europeias de clubes. São factos, não é sub

Os novos corpos gerentes da Federação – Luís Campos Ferreira é o novo presidente da Assembleia Geral, Ana Raquel Sismeiro do Conselho Fiscal, Luís Verde de Sousado Conselho de Justiça , Sandra Oliveira e Silva do Conselho de Disciplina e Luciano Gonçalves do Conselho de Arbitragem

E notando esse destino de um árbitro a tornar-se no que acabara de tornar-se não deixou ainda de vincera ideias e desejos, espíritos e convicções, ao falar da Arbitragem e da Disciplina (que o futebol há de esperar)

– Viemos como podem perceber para respeitar o que de bom se fez e faz. Mas não viemos para deixar tudo na mesma. Não vou fugir de nenhum tema: Arbitragem e Disciplina precisam de nós. Não nos conformemos com a ideia de que a primeira é incompetente, porque não o é, ou porque a segunda é tendenciosa. Não pode ser. Dar condições, profissionalizar tudo e todos e exigir a máxima responsabilidade. Explicar, explicar sem medo. Humanizar os árbitros e traduzir decisões disciplinares. Fazer da redução dos prazos de decisão um objetivo coletivo e da compreensão um ativo essencial. Tudo perante inegociável autonomia. Quem lidera a arbitragem e a disciplina da FPF é inequivocamente o seu responsável maior. A independência destes órgãos não é apenas letra de lei. É princípio inalienável da boa governação que desejamos. Os sócios da FPF sabem que vimos com muita energia e ambição. O que temos pela frente é ambicioso, mas exequível, num esforço que envolve todos os funcionários da FPF. Vocês são quem todos os dias nos faz existir. Quem veste a camisola com sentido de compromisso é quem fez e fará o sucesso de compromisso. Eu e a minha equipa vamos querer conhecer-vos melhor, trabalhar em conjunto e concretizar ambições nossas e vossas. A página virou, mas o livro não é outro. A força destes mais de 110 anos de Federação vem de cada uma e cada um de vós. Conto com todos. Não tenham a mais pequena reserva. Os parceiros comerciais da FPF são parte da nossa casa. Será assim na FPF, como foi na Liga Portugal. Agradeço a todos por estarem aqui e quero referir que a estabilidade é um ativo importante, como a nossa e vossa ambição.

MOVIMENTO DA SUPERAÇÃO — Manuel Sérgio atualizou a “ideia” do poeta romano Juvenal: “mens sana in corpore sano”

O prof.dr. Manuel Sérgio Vieira e Cunha, que agora nos deixou, publicou a partir de 1960  mais de meia centena de livros. 

Dispersos pelos jornais “República”, “A Bola” ,”Record”, e outros, ficaram,entretanto, centenas de textos inspiradores para jornalistas, agentes desportivos, escritores e para muitos dos seus pares, nacionais e estrangeiros. 

Neles discordou, frontalmente, da premissa  cartesiana que alegava “a separação entre o corpo e o espírito (alma)” porque, explicou Sérgio, com uma rara clareza de raciocínio e numa escrita aprimorada, que só é possível uma melhoria do corpo na prática desportiva ou noutros movimentos reportados ao circo, à dança, ou à reabilitação, “se existir uma articulação entre o corpo e o espírito”.

O revolucionário conceito de Motricidade Humana que Sérgio sustentou e fundamentou, com firmeza  científica, há  quatro décadas, recebe hoje o unânime reconhecimento  como “uma pedra basilar nas novas formas de olhar para os atletas e para o treino” (Prime Books, Julho 2016, editora do livro” Futebol : Ciência e Consciência”.

MOTRICIDADE na definição do seu criador é “o movimento intencional e solidário da transcendência, ou superação”. E reclamava, então, “Nada do que é o corpo em movimento é estranho à Ciência da Motricidade”.

 E assim sendo Sérgio reencontrou o poeta romano Juvenal que projectou, desde  séculos de antanho, o seu “mens sana in corpore sano”!

“TREINO OU É COM BOLA OU NÃO É TREINO”

Manuel Sérgio foi, ao longo da sua vida académica, das personalidades portuguesas mais requisitadas para conferências, debates , colóquios, para além, claro, dos  compromissos com a sua rica e prolixa actividade docente.

Será interessante recordar, então, um seminário que em Março de 2016,   durante uma semana, agitou as instalações da Associação de Futebol do Porto (AFP) e que Manuel Sérgio orientou, a convite da mesma, ao qual acorreu uma centena de treinadores.

Alguns deles nomes bem conhecidos como foram os casos do prof.dr. José Neto, José Pereira, Prof.Neca, Prof.Miguel Real, Prof.Henrique Calisto, Domingos Paciência,  entre muitos outros.

Nessa data já Fernando Vaz, José Maria Pedroto e José Mourinho se tinham apercebido que o sábio conhecimento de Manuel Sérgio iria transformar as mentalidades, o treino, a cidadania. Mais tarde José Peseiro, Rui Vitória e Jorge Jesus dele beberam também conselhos inovadores, para o seu conforto pessoal e profissional. 

“Ele é um profeta…” dizia entusiasmado Pedroto e sublinhava, ainda:”Mais tarde ou mais cedo o Desporto vai tomar o rumo que ele anuncia.”

José Mourinho,por seu turno, reflectia o seu apreço público e notório pelo “Profe” que consultava com frequência: “Manuel Sérgio não me ensinou técnica, nem tática. Ensinou-me uma coisa muito simples: o Desporto é muito mais do que uma  Actividade Física e só como Ciência Humana deverá estudar-se e praticar-se”.

Este seminário foi uma “pedrada no charco”, 42 anos depois das portas da Liberdade que Abril abriu.

Manuel Sérgio explicou aos treinadores que no Desporto “era a complexidade humana que estava em jogo”. E rematou com uma afirmação que fez furor naquele tempo: “O treino no futebol, ou é com bola ou não é treino!”

Nota final para o facto relevante de que o IPDJ (Instituto do Desporto e Juventude), em colaboração  com as “Edições Afrontamento” está a publicar  a “Obra Seleta do reputado pensador português, edição anotada por uma  vasta equipa de professores e investigadores universitários. Estão previstos quatro volumes, o primeiro dos quais se intitula “Ciência da Motricidade 

MURILLO LOPES