A Revolução talvez falhasse se o antigo presidente da FPF não tivesse sido «ridículo» e «apalhaçado»

O desporto na história  do 25 de Abril (1)

Foto Ricardo Pereira (repórter-fotográfico de O Comércio do Porto)

Na passagem do ano de 1972 para o ano de 1973, um grupo de 91 católicos juntaram-se no Rato para a missa – e, depois dela, deixaram-se ficar pela capela a «orar, jejuar e refletir sobre a guerra de África». Para que se lhes vincasse a rebeldia, afixaram-se papeletas com números de mortos em combate, imagens de populações dizimadas eestropiados de ambos os lados e clamores soltos em lamentos e desconcertos, destroços e terrores – e tudo issohaveria de inspirar a Cantata da Paz de Sophia de Mello Breyner:

Vemos, ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar. 

De escantilhão entrou a polícia na capela que o Marquês da Praia (avô de Duarte Borges Coutinho, por essa altura presidente do Benfica) mandara construir no seu palacete e doara ao Patriarcado de Lisboa após a morte de Maria Francisca, a filha que se tornara condessa de Cuba – e, como ninguém arredou pé, uns foram levados para esquadra ao lado, outros atirados para Caxias. 

De uma coisa e da outra se livrou Alberto Neto, seu pároco, porque uma broncopneumonia o jogara à cama, de véspera: «Estava, claro, ao corrente de tudo e de tudo dei conhecimento ao senhor Patriarca». Mesmo assim o padre Alberto teve de «ir ao suplício da António Maria Cardoso» (a sede da PIDE que, com Marcello Caetano no lugar de Salazar, passara a denominar-se Direção Geral de Segurança, DGS) – e quando percebeu que «da tortura psicológica se preparavam para saltar para a tortura física», avisou os torcionários: 

– Tudo o que aqui me fizerem direi no altar!

Três dias volvidos, Alberto Neto sofreu acidente de automóvel de que saiu com perna partida (para seis meses em convalescença): 

– Extenuado do intenso interrogatório na DGS, essa foi a causa do desastre». 

CONTRA A VIGÍLIA, O ULTRA QUE FOI PRESIDENTE DO SPORTING

Filho de dois professores primários, Alberto Neto Simões Dias nascera, por fevereiro de 1931, em Souto da Casa, no Fundão. Estudou nos seminários do Patriarcado de Lisboa, de Santarém, de Almada e dos Olivais. Ordenado em agosto de 1957, iniciou o trabalho sacerdotal nos Jerónimos, como coadjutor do padre Felicidade Alves (que, ao descobrir-se simpatizante comunista seria de lá afastado pelo Cardeal Cerejeira) – logo se notando pelo frenesim com que puxava os seus jovens à prática de atividades desportivas também. 

Professor no Liceu D. João de Castro e no Liceu Pedro Nunes, por entre o rol dos seus alunos passaram Francisco Louçã e Marcelo Rebelo de Sousa e fora dos Jerónimos que o padre Alberto saltara da Capela do Rato, salpicando as suas homilias com «a denúncia das injustiças e o alerta das consciências» – ou aquilo que Jorge Wemans resumiria assim: «Não fundou obra, escola, partido, seita. O padre Alberto Neto limitou-se a viver e a viver a sério. A sua liberdade era um contágio de esperança e confiança. Um profeta com palavras de poeta. Um homem excecional».

Condenada a vigília do Rato pelo Cardeal-Patriarca, D. António Ribeiro. o governo de Marcello Caetano espalhou pelos jornais nota cheia de diatribes contra os manifestantes, acusando-os de «subversão e traição à Pátria», a hipócrita dialética do costume. Com Alberto Neto afastado da capela e demitidos todos os funcionários públicos que na vigília participaram, o Rato entrou, brusco, por São Bento dentro.

Francisco Cazal-Ribeiro fora presidente do Sporting e da FPF (a federação deixara-a em 1969, quando, em Angola, lhe morreu um filho, na guerra) e era a a voz dos ultras do regime na Assembleia Nacional (para além de comandante da Força Automóvel de Choque na Legião, talvez o seu mais brutal batalhão) – e, sendo cada vez mais um dos rostos da ala mais radical do salazarismo na Assembleia Nacional, envolveu-se, no parlamento, numa acirrada discussão com Miller Guerra (deputado da Ala Liberal, tal como Francisco Sá Carneiro e José Correia da Cunha, então presidente da Federação Portuguesa de Atletismo) que lamentara, em pleno hemiciclo, a ação policial contra quem «rezava na capela» e a campanha de «demonização» do seu padre…

 

DA CONQUISTA DA TAÇA DAS TAÇAS AOS DIPLOMAS INCENDIÁRIOS

Quando (a 27 de setembro de 1968) Marcello Caetano substituiu António Oliveira Salazar na Presidência do Conselho, puxou o general Horácio José de Sá Viana Rebelo para seu Ministro da Defesa Nacional. Admitido sócio do Sporting em outubro de 1944, acabara de ser promovido a capitão do exército e, para além de engenheiro e professor da Academia de Altos Estudos Militares, tornara-se membro da Junta Central da Legião Portuguesa. Um ano depois, fizeram-no deputado da União Nacional, pelo parlamento andara até 1950 – e uma das mais emotivas intervenções de Sá Viana Rebelo em São Bento foi para repudiar as «notícias tendenciosas publicadas nos jornais estrangeiros» sobre o estado do Estado Novo. Salazar gostou tanto que o chamou para o governo, deu-lhe o cargo de subsecretário de estado do Exército. Passara de tenente-coronel a coronel – e, entre 1956 e 1959, fora governador-geral de Angola. No regresso de Luanda, subira a brigadeiro e voltara ao Instituto de Altos Estudos Militares e à Academia Militar. Fora lá, quando estava como professor do curso de Estado-Maior, que foram convencer Sá Viana Rebelo a assumir a presidência do Sporting, a presidência a que vários outros ilustres foram fugindo, apesar de desafiados. Tomaria posse a 10 de abril de 1963, assumindo que aceitaria apenas um mandato, o qual terminou a 29 de maio de 1964 porque o prolongaram por um mês para que ainda pudesse ser presidente do Sporting no dia em que o Sporting jogasse a final da Taça das Taças, que ganhou aos húngaros do MTK no cantinho do Morais

Por altura da posse de Horácio de Sá Viana Rebelo como Ministro da Defesa Nacional, pelos teatros de guerra nas colónias espalhavam-se 117 684 homens: 58 230 em Angola, 36 615 em Moçambique e 22 839 na Guiné. Apesar de os verdadeiros números serem «segredo de estado» – estimava-se que pudesse haver já mais de 5000 baixas (e entre os mortos estavam, por exemplo, um dos filhos de José Szabo, o treinador mais ganhador do Sporting, e um dos filhos de Francisco de Cazal-Ribeiro, que, sendo, como Góis Mota, um dos líderes da Legião, fora presidente do Sporting entre 1957 e 1958 e presidente do Conselho Fiscal durante o mandato de Sá Viana Rebelo). 

Num sinal do que já se dizia que era a «primavera marcelista», desatou-se rumor de que Caetano cogitava lançar Sá Viana Rebelo como candidato a Presidente da República (para se desfazer de Américo Tomás) – e, em vez disso, Sá Viana Rebelo tornou-se vítima do Movimento de Capitães que haveria de levar à Revolução: decretos que assinara favorecendo o acesso de oficiais milicianos ao Quadro Permanente deixaram as forças armadas em polémica atiçada e na ânsia de apagar-lhe o crepitar, Marcelo Caetano deu à contestação a sua cabeça (forçando a sua demissão a 7 de novembro de 1973). 

Semanas depois, o Expresso mandou ao Exame Prévio (como passara adesignar-se a Comissão de Censura) notícia que dizia: «O general Horácio de Sá Viana Rebelo, que, até à última remodelação ministerial, ocupou o cargo de ministro da Defesa Nacional, será em breve nomeado para o Conselho de Administração da Companhia Portuguesa de Electricidade. Engenheiro, o general ocupará, provavelmente, a presidência» – e a determinação do censor de serviço foi «não sair nada». Como não pôde sair outra notícia que ia no rol: «Uma manifestação de características invulgares teve ontem lugar no liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, onde cerca de 600 das jovens alunas se reuniram num meeting de protesto pela detenção de uma sua colega». (Essa percebia-se, claro…) 

 

O PADRE JÁ ESTAVA NO SPORTING E A PIDE JULGAVA QUE A GNR ESTAVA FIXE

Sem que o Movimento das Forças Armadas esfriasse as suas conspirações, como Vasco Lourenço (que haveria de tornar-se igualmente figura grada no Sporting) fora parar à prisão na sequência do falhado Golpe das Caldas, indicara-se Otelo Saraiva de Carvalho para o comando do que se decidira imparável: a revolução (que se apontou para a madrugada de 25 de abril). Hugo dos Santos (que haveria de tornar-se figura grada do basquetebol, dando-se-lhe o nome à Supertaça) batera à máquina o programa que Melo Antunes escrevera à mão e a proclamação para ser lida aos microfones de uma rádio a escolher. 

Ao tomar posse como presidente do Sporting, João Rocha puxara o padre Alberto Neto (já afastado da capela do Rato) de responsável pelo futebol juvenil para responsável pelo futebol profissional e, ao chegar-se ao dia 24 de abril, ficou o seu Sporting a um golo da final da Taça das Taças. Por essa altura, tinha a FPF um diretor chamado Marcelo Rebelo de Sousa que o revelaria (a Alexandra Tavares Teles para o Notícias Magazine): 

– Indo ver o jogo do Sporting na RDA a casa de um amigo que morava junto ao estádio do Belenenses, no final do jogo, peguei no meu carro, um Fiat 127 branco, e regressei ao Expresso. O fecho dava um trabalhão porque o jornal estava sujeito à prova de página – mandar ao Exame Prévio, à censura, textos e imagens, títulos, publicidade. Saindo de lá por volta das cinco da manhã, ao cruzar o Marquês, apercebi-me de movimentos militares.

Tendo o Sporting empatado 1-1 em Alvalade, em Magdeburgo perdeu por 2-1 – o golo que lhes faltou levou a que cada um dos seus jogadores perdesse 50 contos, prémio de passagem à final. (Um Fiat 127 como o de Marcelo custava 94 contos e se os salários dos professores andavam pelos três contos e meio, de «luxo» eram os ordenados dos capitães do exército que fossem em missão para o Ultramar: 14 contos.) 

Indo a caminho da sua casa Marcelo Rebelo de Sousa (cujo pai, Baltazar Rebelo de Sousa, era Ministro das Corporações, o Ministro das Corporações que permitira que os jogadores de futebol tivessem Sindicato legalizado desde que Jorge Sampaio, o advogado oposicionista que lhe fizera os Estatutos, seu advogado não fosse…) – Fernando Silva Pais (director da PIDE-DGS cujo irmão fora presidente do Barreirense) ligou, para a casa de Marcelo Caetano, sem esconder a aflição: 

– Senhor Presidente, a Revolução está na rua! O caso é muito grave…

e, recomendando-lhe que fosse para o quartel do Carmo em busca de refúgio, murmurou-lhe: 

– É que a GNR está fixe!

 

O PRESIDENTE DO FC PORTO QUE SAIU DE ELEIÇÕES DIFERENTES DAS FARSAS DE SALAZAR

Em 1953, fizeram-se no País eleições como já era timbre: mais ou menos em farsa.

Cartazes da União Nacional diziam que Votar Com Salazar É Garantir a Paz e o Pão – e apanhando-a a remexer caixotes do lixo em busca de comida para os filhos, fora presa viúva no Porto. A Maria Joaquina da Silva Teixeira levaram-na ao Tribunal de Polícia por a encontrarem palmilhando ruela de pé nu: 

– Era só um, Sr. Dr. Juiz, andava doente dele… olamuriou-se e, levantando-se do banco dos réus, mostrou-lhe duas feridas ainda a lazará-lo. O magistrado, sem desarmar a compostura, exclamou-lhe (a tocar para o jocoso): 

– O que vejo é que está sujo… e se tem o pé doente mais uma razão para andar calçada… e despachou-lhe a condenação com multa de 16 escudos e 50 centavos e mais 50 escudos pelo «mínimo de imposto de justiça». O Benfica contratara Otto Glória para seu treinador, pagando-lhe 12 contos por mês. Baptista Pereira ganhara a Travessia da Mancha – e no intervalo dos treinos e do trabalho numa fábrica de cimentos a 26 escudos por dia ainda se aventurava a distribuir, clandestino, o Avante. 

Indo Urgel Horta para deputado da União Nacional indicou para seu sucessor na presidência do FC Porto, Abel Portal. Não o aceitando, Cesário Bonito lançou-se à corrida como «candidato de oposição», logo se lhe ouvindo com audácia: 

O 25 de Abril e o Desporto

A partir de logo, o cnid.pt vai publicar uma série de textos sobre o 25 de Abril e as histórias (muitas) em que se cruza com o desporto. São da autoria do vi e-presidente António Simões, seguramente a maior autoridade na matéria pelo muito trabalho publicado em ‘A Bola’ e em livro. Mas haverá textos de outras pessoas, e podemos apelar a que, quem queira contribuir, o faça também. Também no desporto o ‘dia inicial inteiro e limpo’ foi um momento de viragem no nosso país e há muitas histórias pouco conhecidas, ou deeconhecidas mesmo, que se irão contar. São os 50 anos do 25 de Abril que o CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto não pode deixar de marcar.

Conhecidos os vencedores dos Prémios ‘Desporto com Ética’ 2024

Vitor Santos, do jornal ‘Diário de Viseu’, Sara Dias Oliveira e Maria João Gala, da revista ‘Humanista’, são os vencedores dos Prémios de Jornalismo ‘Desporto com Ética’, atribuídos pelo PNED – Plano Nacional de Ética no Desporto com a colaboração do CNID.

“Ausência de valores no desporto de formação” foi o texto que deu o prémio para a Imprensa Regional a Vitor Santos, enquanto “O silêncio também é racismo” foi o trabalho distinguido entre os que se candidataram em Imprensa desportiva ou generalista. Esta foi a 12ª edição destes prémios, que têm vindo a ter um êxito reforçado a cada ano que passa.

O júri foi presidido por Murillo Lopes, secretário-geral do CNID, Alexandre Afonso (Canal 11) e Artur Madeira (antigo dirigente do CNID). O PNED é coordenado por José Carlos Lima. Os prémios serão entregues, como habitualmente, na Gala do CNID, este ano marcada para Viseu, Cidade Europeia do Desporto, no dia 20 de Maio no Solar do Vinho do Dão.

Parabéns a todos os que concorreram e em especial aos vencedores.

Eis a lista dos premiados:

Imprensa Regional

1º Prémio

Texto:    “Ausência de valores no desporto de formação

Autor:    Vitor Santos

Publicado em: jornal “Diário de Viseu”

2º Prémio

Texto:    “Rugby em Coimbra: o amor à camisola da família Académica

Autor:    Vilma Reis e Filipa Queiroz

Publicado em: revista “Coimbra Coolectiva”

3º Prémio ex aequo

Texto:    “Nesta liga todos vencem

Autor:    Carlos Pinto

Publicado em: jornal “Correio do Alentejo”

e

Texto:    “Pedro e Grijó: uma relação de superação

Autor:    Emanuel Pereira

Publicado em: jornal “As Beiras”

 

Imprensa Desportiva e/ou na Imprensa Generalista

1º Prémio

Texto:    “O silêncio também é racismo

Autor:    Sara Dias Oliveira e Maria João Gala

Publicado em: revista “Humanista”

2º Prémio

Texto: “Traficantes de sonhos

Autor: Simão Freitas, Tomás Guerreiro e Paulo Pimenta

Publicado em: revista “Humanista”

3º Prémio

Texto: “Jogo tem de terminar, ponto!

Autor: Pedro Cadima

Publicado em: jornal “O Jogo”

Menções Honrosas:

1º de Dezembro. O Clube onde o bom comportamento é uma vitória”, da autoria de Isaura Almeida e publicado no jornal “Diário de Notícias”

Por uma autenticidade na promoção e defesa dos valores éticos“, da autoria de Jorge Machado e publicado na revista “Sport Magazine – Revista de Treino Desportivo”

Descida ao inferno da violência contra os árbitros do futebol distrital“, da autoria de Eduardo Soares da Silva e João Carlos Malta e publicado na “Rádio Renascença Online”

 

 

Não é o que se diz, é como se diz. Ou como se conta o desporto no feminino

Nadia Bonjour, ao centro, entre alguns dos jornalistas que estiveram a ouvi-la no COP e no quadro da preparação para os Jogos de Paris

Nadia Bonjour é consultora de Comunicação especializada em representação de género e desporto, e esteve no Comité Olímpico de Portugal a passar uma ensagem: “Não é o que se diz, é como se diz”. Ou seja, é preciso ter cuidado com a representação do feminino no desporto.

“Uma das coisas importantes em como se descreve  é ser neutro em relação ao género”, disse no encontro com jornalistas e dirigentes na sede do Comité Olímpico, em Lisboa, numa sessão que também procurou servi0r de preparação a quem vai aos Jogos Olímpicos de Paris, no Verão próximo. A sua apresentação tinha como título “Reframing gender in Sport”, que se pode traduzir como “Reescrever o género no Desporto”.

Em Tóquio, 48% dos atletas eram do género feminino, em Paris espera-se que sejam mesmo metade Portuguesas eram 39%. Quanto aos media portugueses, só 9,5% eram mulheres. Nadia Bonjour diz que na Suécia há bons exemplos de cobertura jornalística alargada sobre desporto no feminino, mas não há números em relação a Portugal sobre a quantidade de notícias que  os media dão em relação ao desporto masculino.

“As palavras moldam o mundo”, diz a consultorae portanto “as palavras contam” e põe o tom no género. E citou do Financial Times. “Ela não é uma boa mulher cavaleira, é uma boa cavaleira. Ponto”. E por isso “é tempo de mudar o ângulo”. Ninguém pergunta ao rafael Nadal como é ser pai de gémeos, mas é fácil perguntar a uma mulher como foi ser mãe, ou então porque está vestida assim.

“Sou meio inglesa, com raízes perto de Manchester, estudei na Inglaterra e rapidamente me disseram que tinha que neutralizar o meu sotaque. Hoje a BBC procura ter gente de todos os lados de Inglaterra, ter mais diversidade de sotaques e de maneiras de falar de forma a ser mais inclusiva”. As palavras contas, o sotaque também.

Optar por imagens respeitadoras, neutras no género. “Não é não dizer mal de alguma mulher que tenha jogado mal, ou que não tenha estado á altura num dado momento desportivo – não, pelo contrário, encoraja-se que haja essa igualdade. Ter cuidado”.

Dá algumas ideias para se treinar – e é preciso treino. Criar conhecimento, por exemplo, procurando saber o que dizem do que escreveste, através dos comentários; procurar novas lógicas, construindo um diretório de diversidade de ‘storytelling’. Ser criativo porque é importante.

Ricardo Espírito Santo, Realizador ‘Realizar também é jornalismo’

Ricardo Espírito Santo, Realizador, como Troféu CNID Excelência

O Realizador Ricardo Espírito Santo recebeu finalmente o Troféu CNID Excelência que lhe foi atribuído  em 2020 e que distinguiu uma profissão que o CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto normalmente não premeia. 

O Realizador e diretor da Terra Líquida Filmes, produtora que fundou em 2008, continua a ter o bichinho de realizar futebol. ‘Pôr o futebol na televisão é uma coisa única. Porque é ali, no imediato, é o momento que dita tudo, Adoro fazer isso e continuo a achar que tenho jeito para fazer isso’.

Nascido a 13 de Agosto de 1960, em Espinho, Ricardo Espírito Santo foi controlador aéreo antes de optar pela realização na SIC, que começava, com Emídio Rangel à frente. Passou pelas televisões todas, realizou o Amo-te Teresa, o famoso telefilme da SIC, documentários, tudo. E muitos jogos de futebol. Era ele que estava ao leme a 25 de Janeiro de 2004, num Gumarães-Benfica, em que o húngaro Miklos Feher tombou inanimado e nunca mais se levantou. RES percebeu cedo que o caso era grave e os planos que deu aos espectadores foram à distância, não intrusivos, numa realização que foi elogiada por toda a gente. Pela sua humanidade, pela forma como respeitou um momento que se vive uma vez na vida. Porque a imagem estava com Feher no momento em que este se vergou, pôs as mãos nos joelhos e caiu. Disse, na altura, que tinha dado ordens para não haver imagens ao perto e que a concorrência não pode justificar tudo.

Em 2020 houve o chamado caso Eriksen, o dinamarquês que tombou inanimado durante o jogo do Campeonato da Europa frente à Finlândia e correu sérios riscos de vida. 

Vinte anos depois, RES recebe o nosso Óscar. O futebol hoje joga-se no campo e na televisão, daí a importância do realizador, que tem à sua disposição às vezes mais de 20 câmaras para dar todo o pormenor – e às vezes falham-se coisas importantes. A realização televisiva de um jogo faz parte da realidade do jogo, de como todos o percebemos hoje. Por isso se justifica que o Jornalismo olhe para a televisão e se envolva com os seus pormenores técnicos. Um ‘frame’, às vezes, é o suficiente para o VAR mudar um jogo. 

Ricardo Espírito Santo em breve mas significativo discurso direto:

‘Creio que a condição fundamental [para se ser realizador] é amar o futebol. Desde puto que gosto de bola e, creio, esse conhecimento técnico do jogo reverteu em meu favor quando me tornei realizador.

‘Ser dotado de sangue-frio, a pressão em Portugal é desmesurada e o trabalho desenvolve-se a uma velocidade alucinante. Dominar 20 câmaras é de grande exigência profissional.

‘Em certo sentido, a realização de futebol é jornalismo. Isenção, ser fiel ao revelar o que se passa no relvado, nunca ceder a pressões (tive algumas), mostrar os factos e deixar as interpretações para os espectadores. E, a meu ver, assumir também um papel pedagógico, não pactuar com nenhum tipo de manipulação e/ou exploração de certas  imagens para cumprir desígnios obscuros.’

As novas competições da UEFA

As competições europeias no ciclo  2024-27 têm muitas novidades e a UEFA está a fazer um esforço de explicação, para que a mensagem chegue aos adeptos. O ‘briefing’ de Giorgio Marchetti, secretario-geral adjunto da UEFA em Londres, no Hotel Waldorf Hilton, juntou uns quinze jornalistas convidados e por deferência da UEFA, também o presidente do CNID.

  • Como já se sabe, as três provas, Liga dos Campeões, Europa e Conference Leagues  deixam de ter uma fase de grupos e passam a ter uma fase com um único grupo de 36 equipas (em vez de 32 divididas por quatro grupos) que se disputa no denominado sistema suíço – cada equipa joga com duas de cada um dos quatro potes (que assim continuam a existir); um total de oito jogos que se estendem de Setembro a Janeiro;
  • O sorteio passa a ser híbrido, mas quase todo por computador e quase nada manual – para continuar a ser com as bolas demoraria, segundo Marchetti, três ou quatro horas;
  • Vão tentar proteger o país, mas pode acontecer que haja, na fase de liga, de grupo único de 36 equipas, duas equipas do mesmo país a defrontarem-se mas  nenhuma equipa jogará com mais de duas equipas do o mesmo país
  • Na Champions passa-se de 32 para 36 equipas na fase Liga. Um lugar novo será para a Federação com o 5. lugar no ranking, que até agora só tinha duas equipas; outro lugar para um apurado do “caminho dos campeões” e os outros dois para as federações que tiverem os dois melhores desempenhos do ano anterior (neste momento Alemanha e Itália). Nas últimas cinco épocas, a Inglaterra foi a melhor em quatro. Portugal está em nono lugar atrás de Holanda, Chéquia, Turquia…
  • A UEFA defende que vai haver mais jogos e melhores, ou seja, com melhores equipas a defrontarem-se e esse é um dos motivos para terem optado por este caminho; acredita que vai haver uma competitividade maior na fase de liga e mais diversidade (até agora defrontava-se três equipas, agora serão sete diferentes, metade em casa e metade fora ponderado segundo os potes); ao mesmo tempo, expande-se a participação e melhora-se a qualidade
  • Passa-se de 32 para 36 equipas em cada fase de Liga e de um total de 96 para 108 equipas 
  • Os primeiros oito  ficam apurados para os oitavos-de-final, os últimos doze ficam fora da Europa – não há mais descidas para as competições abaixo; as simulações que foram feitas mostram, diz a UEFA, que serão precisos sete pontos para ficar entre o 9º e o 24º lugar – essas 16 equipas jogam um play-off; as equipas entre o 9º e o 16º lugar serão cabeças-de-série no sorteio e, em princípio, diz a Uefa, jogarão a segunda mão em casa. Chegou a discutir-se na UEFA, por proposta de Theodoridis, que cada clube fosse escolhendo o adversário, á americana, como na cerimónia do ‘draft’, mas não passou. “Grande parte destas mudanças vêm das conversas com os treinasdores que fazemos há anos e nenhum, nem um, queria esse sistema”, disse Marchetti. “E, já agora, todos quiseram jogar em casa a segunda mão, apesar de haver dados que indicam que isso já não é tão importante e que se joga da mesma forma em casa e fora”.
  • no próximo ciclo 1.2B€  gerado na Champions não será distribuído nesta competição, mas pelas outras – representa pelos cálculos de Marchetti um terço das receitas geradas pela principal competição de clubes.
  • a última jornada será toda à mesma hora e mesmo dia e vai ser um desafio para a sala VAR
  • A primeira jornada de cada uma das três provas terá uma semana dedicada – ou seja, naquela semana só se joga Champions, ou Europa ou  Conference.

 

Giorgio Marchetti, secretário-geral adjunto da UEFA no uso da palavra(em pé à esquerda) e Theodore Theodoridis (sentado) secretário-geral, no ‘briefing’ de apresentação das novas competições europeias em Londres

CNID solidário com a greve dos Jornalistas

Em dia de greve dos jornalistas, o CNID apresenta a sua solidariedade com uma luta justa e necessária na defesa da nossa profissão.

O salário e a remuneração das horas extraordinárias, o cumprimento da lei do Código de Trabalho e do Contrato Coletivo de Trabalho, as condições materiais e éticas para o cumprimento da função, a intervenção do Estado no garantir da sustentabilidade financeira do jornalismo e a atualização das estruturas regulatórias da comunicação social e do jornalismo são as questões apresentadas pelo Sindicato dos Jornalistas no seu caderno de encargos que o CNID acompanha e apoia.

Os jornalistas, colaboradores e demais trabalhadores na área do desporto sentem na pele as consequências negativas de um forte desinvestimento, financeiro e social, na informação.

A importância dos jornalistas para uma vida em democracia é inegável. Lutar pelos seus direitos e condições de trabalho um imperativo.

A todos os jornalistas que hoje estão em luta, o CNID apresenta o seu apoio.

Lisboa, 14 Março 2024

A Direcção