Voto de pesar pelo falecimento de José Manuel Constantino

A Direção do CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto deliberou, por unanimidade, apresentar um voto de pesar pelo falecimento do Prof. Dr. José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico falecido no domingo, 10 de Agosto, dna hora em que se encerravam os jJogos Olímpicos de Paris 2024.

Nasceu em Santarém, vai ser sepultado em Gondomar e a sua atividade atingiu o país inteiro, pela solidez e clareza das sus convicções. Foi distinguido pelo Presidente da República e também pelo CNID, que lhe entregou o Prémio Prestígio Fernando Seromenho a 18 de junho de 2021, por decisão também por unanimidade da Direção de então. Entre muitos outros atributos, José Manuel Constantino sempre foi um homem que percebeu a função dos Jornalistas e do Jornalismo, escrevendo belos textos e seno sempre um defensor dos Jornalistas. Algo que também o CNID tem que sublinhar.

Mário Martins, Manuel Queiroz e Artur Madeira ladeiam José Manuel Constantino com o Troféu Prestigio Fernando Seromenho

Vasto curriculum

Socorrendo.nos do sítio na internet da Universidade do Porto, eis o seu curriculum:

Licenciado em Educação Física pelo Instituto Superior de Educação Física, exerceu atividade docente entre 1973 e 2002. Foi professor do ensino básico (1973-1986) e docente universitário (1994-2002), nomeadamente professor auxiliar convidado da cadeira de Organização e Desenvolvimento do Desporto do Curso Superior de Educação Física e Desporto, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (1994-1996), professor convidado da disciplina de Desporto, Recreação e Tempos Livres, na Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade do Porto (1991-1995), professor associado convidado da cadeira de Organização e Desenvolvimento do Desporto do Curso Superior de Educação Física e Desporto da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (1997-2002), professor convidado do Curso de Dirigentes Desportivos, da Universidade Autónoma de Lisboa (1999-2000) e professor convidado do curso Autarquias e Desporto – estratégias de sucesso, do Instituto Superior da Maia (2002).

Fez parte da Comissão Instaladora dos institutos superiores de Educação Física, do Porto e de Lisboa (1974-1975). Foi membro da Assembleia Estatuária da Faculdade de Motricidade Humana (Lisboa, 2009) e é membro do Conselho de Representantes da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (desde 2010).

Na administração pública exerceu os cargos de membro do Conselho de Fundadores da Fundação do Desporto (2001), de presidente do Instituto do Desporto de Portugal (2002-2005), de presidente do Conselho Nacional Antidopagem (2002-2005), de presidente do Conselho Nacional Contra a Violência no Desporto (2002-2005), de presidente da Comissão de Coordenação Nacional do Ano Europeu de Educação pelo Desporto (2003-2004) e de presidente da Confederação do Desporto de Portugal (2000-2002).

Na esfera das autarquias, foi diretor do Departamento dos Assuntos Sociais e Culturais da Câmara Municipal de Oeiras (1996-2002), membro do Conselho Superior de Desporto (2002-2005) e presidente do Conselho de Administração da Oeiras Viva, E.E.M. (2006-2013).

É membro fundador da Sociedade Portuguesa de Educação Física e da Sociedade Portuguesa de Ciências do Desporto; membro da Academia Olímpica de Portugal, da Federação Internacional de Desporto para Todos, da Sociedade Norte Americana Sport Management e membro consultivo da Fundação Marquês do Pombal.

Foi presidente da Assembleia-geral do Centro de Performance Humana (1995-2001), vice-presidente do Conselho Consultivo da Fundação do Desporto (até 2000), membro do Conselho Consultivo do Lugar Comum – Clube Português de Artes e Ideias (até 2002) e membro do Conselho Editorial do Jornal Record (até 2000).

Autor de 12 livros e coautor de 17, foi o coordenador editorial de 14 publicações e membro fundador da revista Horizonte – Revista de Educação Física e Desporto (1993). Proferiu 221 conferências, comunicações e discursos sobre Desporto, no país e no estrangeiro.

Foi atleta federado de Futebol nos Leões de Santarém (1962-1967), secretário técnico da Direção do Sport Algés e Dafundo (1985) e assessor da Direção da Federação Portuguesa de Halterofilismo (1986-1990).

CNID no centenário da AIPS em Paris

A Associação Internacional da Imprensa Desportiva (AIPS, no seu acrónimo em francês) festejou cem anos nesta terça-feira, dia 6, na mesma cidade em que foi fundada antes da cerimónia de abertura dos Jogos de 1924 – em Paris.

Uma cerimónia realizada na sede da UNESCO, Place Fontenoy, com centenas de jornalistas e a presença da ministra francesa do Desporto, Amélie Oudéa-Castera, da vice-diretora da UNESCO para as Ciências Humanas e Sociais, Gabriela Ramos, do México, e Guilherme Canela, brasileiro que é chefe da secção Liberdade de Expressão e Segurança dos Jornalistas na UNESCO. ‘Os jornalistas têm aqui a sua casa’, chegou a dizer quando foi ao palco. Marc Maury, antigo decatleta foi o apresentador e Gianni Merlo, presidente da AIPS, a alma de todo o evento. O CNID esteve presente através do seu presidente, que teve a honra de entregar a lembrança a Nadia Comaneci, que esteve na cerimónia ao lado de outros grandes atletas como Edwin Moses, Donna de Verona, Nadal el Moutawakel, Sebastian Coe, Daley Thompson, Kipchoge Keino, Wu Jimgyu, Ana Fidelia Quirot, Sergey Bubka, entre uma plêiade fantástica que compareceram. Kataklo, um grupo de artistas de grande sucesso, animou ainda mais a manhã.

A ministra fez um discurso em que salientou a importância do jornalismo. ‘O que seria o Desporto sem as vossas palavras, sem as vossas imagens, o que teria sido das grandes proezas dos grandes campeões, das pequenas histórias por trás das grandes narrativas e as inspiradoras vidas que o desporto sacra lixou sem aqueles que as capturam e transformam-nas para a posteridade’, disse Oudéa-Castera. E salientou a importância da França  na criação da AIPS, cujo primeiro presidente foi o francês Franz Reichel, campeão olímpico em 1900. Mais tarde, Vincent Duluc, presidente da União Sindical dos Jornalistas Desportivos Franceses, salientaria ainda que Jules Romeu (Mundial de futebol), Henri Delaunay (Europeu), ou Gabriel Hanot, jornalista do L’Equipe (Taça dos Campeões Europeus, hoje Liga dos Campeões).
Gabriela Ramos deu os parabéns aos Jornalistas pelo seu trabalho: ‘O que faríamos sem os vossos olhos, os vossos ouvidos, a vossa caneta’. O vosso papel na cobertura de eventos desportivos é vital’.

O momento alto final  foi a presença de dezenas de jornalistas no palco, para receberam uma lembrança evocativa da c abertura de dez Jogos Olímpicos (inverno e Verão).

(em atualização)

Visita aos meandros da fundação (Parte II). Admissão unânime na AIPS em Junho 1966

(Continuação)

A iniciativa urgia porque se aproximava a realização do Campeonato do Mundo de Futebol, “Inglaterra 1966” e a filiação do CNID na AIPS (Association International de la Press Sportive/International Sports Press Association)  era fundamental para que o CNID se pudesse afirmar, universalmente, como representante único e legítimo dos jornalistas portugueses que  operavam  na área  do Desporto, em Portugal, e careciam das respectivas acreditações junto dos organizadores do “Mundial” de Futebol.
Fernando Soromenho, então já presidente eleito da Direcção do CNID, recebeu, entretanto, um honroso convite do presidente da AIPS, Félix Lévitan (haviam-se conhecido nos Jogos Olímpicos, Tóquio 1964 ) para participar nos trabalhos do  Congresso da AIPS que, à data, Junho de 1966, decorriam na Finlândia.


Sublinhe-se, a propósito, que a deslocação de Soromenho a Helsínquia só foi possível com o incentivo e o apoio decisivo  do dr. Armando Rocha, então Director-Geral dos Desportos, homem da causa desportiva e um amigo do CNID. Após Abril  de 1974, Armando Rocha desempenhou funções, ainda, como presidente da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB).
Num texto por mim recolhido, meses antes de Fernando Soromenho falecer, e por ele ditado, na sua casa da Parede (concelho de Cascais), é bem visível o entusiasmo e a dedicação, sem limites, à causa do Jornalismo dos cabouqueiros da nossa Associação.
O reconhecimento público da existência profissional dos jornalistas portugueses, que trabalham na área do Desporto foi alcançado, assim, a nível nacional e internacional. Com muito suor, com  algumas lágrimas também, muito esforço e persistência e uma luta consequente contra os escolhos impertinentes que a sociedade retrógrada de então colocava a cada passo de sucesso, colectivo e solidário!.
Num curto espaço de tempo foram atingidas, no entanto, metas julgadas inacessíveis. Ultrapassadas também com a ajuda e a compreensão necessárias, de gente de boa fé e melhor esclarecida. Foi possível, então, garantir uma grande vitória na empreitada através
de duas acções finais, muitíssimo importantes:

Antes de se tornar (em fraude) o Presidente dos discursos patéticos, Américo Tomás foi presidente do Belenenses (e nome de estádio apagado pela calada da noite)

 

Nos 50 anos

do 25 de Abril,

desporto e Mais…

Por António Simões

Em 1945, Fernando Cabrita era o ex-libris do Olhanense. O Sporting ofereceu-lhe 25 contos de luvas, emprego como polícia e, sobre isso, subsídio mensal de 800 escudos. (Era o tempo em que os gira-discos causavam frenesim e estavam à venda por 3500 escudos.) O Belenenses entrou no jogo e subiu a parada: 70 contos de luvas, um chalet – e 1000 escudos por mês. Alegando que não havia «caso de força maior», o governo não autorizou – e Cabrita ficou em Olhão a receber 175 escudos por semana. (Um par de botins ficava por 192 escudos e 50 centavos – e Salazar continuava com o mesmo que trouxera de Coimbra, D. Maria mandara-o uma vez ao sapateiro a arranjar.)

Não, o presidente do Belenenses já não era Américo Tomás – largara o posto meses antes, quando António Oliveira Salazar o chamou para seu Ministro da Marinha. Para o seu lugar saltou, então, Constantino Fernandes – e foi já com ele lá (e sem Fernando Cabrita na sua equipa) que o Belenenses se sagrou campeão nacional da I Divisão. (Constantino Fernandes já se destacara por outros caminhos: defensor de antifascistas no Plenário de Lisboa. O tribunal onde se batia, galhardo, por eles era na Boa Hora – instalou-se em edifício que no século XVI fora pátio de comédias e depois foi convento. As decisões iam tomadas para as sessões, os advogados dos presos não recebiam centavo de vencimento – e apenas 43 dos 3000 existentes em Portugal ousavam sê-lo. E em 1953 Constantino Fernandes fez mais: haveria de fazer mais: entraria como candidato a deputado em lista de oposição à União Nacional – e obviamente não foi eleito, essas eleições e outras eram farsas…)

Fernando Cabrita tentado pelo Sporting e pelo Belenenses que tinha Américo Tomás a caminho de se tornar ministro de Salazar (e depois mais…)

O pai de Américo de Deus Tomás vivera pobre em Ferreira do Zêzere e conhecera a mãe na casa de latifundiários ribatejanos onde ambos trabalhavam como criados. Foram os patrões que lhe arranjaram trabalho como guarda na Tapada Real da Ajuda. A caça ligou ao pai a D. Carlos – e, a Américo, foi D. Amélia que lhe ganhou afeição. de pequenino. Decidiu, por isso, tratar-lhe da «educação para lhe mudar a vida e o destino», sendo, portanto, todos os seus estudos pagos pela Rainha (enquanto Rainha foi).

Filho de criados de um latifundiário, foi a Rainha D. Amélia quem pagou os estudos a Américo Tomás

Nascido em novembro de 1894, por sugestão do pai Américo Tomás apostou a vida na Marinha. A primeira tentativa deu em logro: médicos reprovaram-no por o acharem franzino de mais. Não, não se resignou ao destino e «alimentando-se melhor e fazendo exercício como um atleta», acabou mesmo admitido na Escola Naval, concluiu-a em 1916.

Durante a I Guerra Mundial desempenhou funções de escolta do Couraçado Vasco da Gama e do Cruzador Pedro Nunes. Em 1920 entrou ao serviço do navio hidrográfico 5 de Outubro – e pouco antes pusera o coração noutro lado:

Fui simpatizante do CIF que abandonou o futebol quando surgiu o Belenenses – que ao fundar-se foi recebido com bastante animosidade e foi o meu pendor natural a favor do desprotegido que me fez ser Belenenses para sempre.

Em 1936 puxaram-no a chefe de gabinete do Ministro da Marinha – e, ligado cada vez mais a Salazar, Tomás já estava presidente da Junta Nacional da Marinha Mercante quando o Belenenses o chamou para presidente da sua direção.

O tempo foi passando sem que Américo Tomás largasse o governo – e, ao chegar-se a 1958, Salazar decidiu que Francisco Craveiro Lopes, o oficial das Forças Armadas que escolhera para sucessor de Óscar Carmona, não deveria continuar no cargo – por se ter aproximado da corrente reformista de Marcelo Caetano e ordenou à União Nacional que lançasse Américo Tomás como seu candidato às Presidenciais de 1958.

Já havia RTP e a RTP não mostrava o que os Centuriões de Góis Mota (que deixara de ser presidente do Sporting) fizeram contra Delgado

A RTP iniciara a suas emissões regulares a 7 de Março de 1957. O aparelho mais barato da Schaub Lorenz custava 7 990 escudos, o mais caro andava por 18 800. Na publicidade começaram a aparecer modelos mostrando as pernas (mas não muito) – e a organizarem-se mais modernos e audazes concursos Miss Praia, por entre o tradicional (e de boa moral) concurso da Rainha das Costureirinhas e vencedora de um desses  foi ao Estádio de Alvalade posar (com a faixa sobre um vestido de chita) entre os seus jogadores do Sporting campeão de 1957/58.

A Rainha das Costureirinhas a consagrar o Sporting campeão de 1957/1958

Presidente do Sporting deixara de ser Carlos Góis Mota – empenhando-se ainda no comando dos Centuriões – o mais brutal dos esquadrões da Legião Portuguesa (a tropa de choque que fazia trabalho mais sujo do que a PIDE: arruaças, raptos, espancamentos, dispersões de manifestações a tiro, sobretudo no 1º de Maio…)

Por Lisboa correu rumor de que, uma vez, na Tapadinha, Góis Mota entrara de pistola em punho no balneário do árbitro Clemente Dias avisando-o de que se não tomasse mais atenção às coisas na segunda parte poderia «prejudicar-se». Não foi bem, bem assim: é verdade que Góis Mota foi lá reclamar de expulsão «injusta» de Aparício e «golo estranho validado ao adversário», mas de porta aberta e levando consigo Faustino Rodrigues, o delegado do Atlético, sem mostrar pistola nenhuma – e o Sporting que estava a perder por 0-1 até perdeu por 1-3.

A RTP não o mostrava e os jornais não o contavam (claro…) – e o que não é mito é o que os Centuriões de Góis Mota fizeram para abalar a campanha eleitoral de Humberto Delgado – que ousara enfrentar Américo Tomás nessas eleições presidenciais de 1958. Por exemplo, no comício do Liceu Camões, mais do que a polícia a cassetete, foram os Centuriões que varreram a tiro a multidão que já se juntara – e, no dia seguinte, o Ministro do Interior espalhou pelos jornais descarada nota em contrainformação que dizia: «para que bem se possa conhecer a gente que, ao serviço do partido comunista, surgiu nas ruas a apoiar por meio de tumulto o candidato chamado independente, gente que vaiou e agrediu a força pública, destruiu candeeiros e montras, procurando lançar a cidade na desordem e no pânico pela GNR e PSP foram detidos nas imediações do Liceu Camões 45 indivíduos, desse 31 são cadastrados, eram portadores de armas de fogo, acusados de roubos, de vadiagem, de mendicidade, de desobediência, etc… etc…»

Quando se anunciaram os resultados das eleições de 1958, deram-se a Américo Tomás 758 998 votos e a Humberto Delgado 236 528. Ninguém acreditou que fosse verdade. Chamuscado com o que acontecera, Salazar mandou alterar a Constituição: daí em diante o Presidente da República passou a ser escolhido por um colégio eleitoral formado por elementos da Assembleia Nacional, da Câmara Corporativa (e ainda de representantes dos municípios e do Conselho do Ultramar) – e foi continuando a ser Tomás, Américo Tomás. Em torno de si alastrou a fama de simples corta-fitas – chegando até a inaugurar as lavandarias do Hotel Sheraton  – agitando discursos com frases que eram paródia pegada ou pior quando a Censura não conseguia cortá-las ou alterá-las. Exemplos?

– Esta é a primeira vez que cá estou desde a última vez que cá estive…

– Manteigas é uma terra bem interessante porque estando numa cova está a mais de 700 metros de altitude…

– Hoje visitei todos os pavilhões desta Feira, se não contar com os que não visitei… 

 

Presidente da República na fraude que a tirou a Humberto Delgado (e o que Humberto Delgado tinha a ver com o Belenenses também)

Depois de em fraude chegar Américo Tomás à presidência da República, colocaram-lhe o nome no Estádio do Belenenses (que custara mais de 34 mil contos e fora inaugurado em 1956 por Craveiro Lopes). Incapaz de suportar as dívidas e os juros, em 1961 a Câmara de Lisboa apoderou-se dele e sujeitou o clube ao ultraje de lhe encaixotar os troféus e as taças, pô-los na rua. Acácio Rosa foi a voz da indignação e do protesto – contra o presidente da autarquia, os seus vereadores. A PIDE mandou-lhe recado: que se calasse – e nunca mais deixou de tê-lo sob apertada alçada.

José Chaves Rosa, o filho de Acácio, que presidente do Belenenses haveria de ser também, casara-se com Iva, a filha de Humberto Delgado. Tiveram um filho: Frederico Delgado Rosa. Ele, historiador, foi ao fundo do processo de julgamento dos assassinos do avô pela PIDE e descobriu que nada foi como se andara a dizer:

O assassinato a tiro é uma mentira fabricada pelos juízes de Santa Clara. Feita a autópsia logo em 1965 pelos espanhóis, ficou claro que Humberto Delgado morreu devido a sucessivas contusões cranianas. O golpe fatal foi uma paulada na cabeça. A justiça portuguesa refutou todas essas perícias médico-legais de forma indigna, porque aquela verdade não lhe convinha. Quando ilibaram o chefe da brigada, Rosa Casaco, ilibaram toda a hierarquia superior da PIDE, o ministro do Interior, o próprio Salazar. E a ideia de que a PIDE foi a Espanha não para assassinar Humberto Delgado, mas para trazê-lo preso para Portugal também está relacionada com a ilibação geral a partir da transformação de Casimiro Monteiro em bode expiatório…

Uma das fotos de António Capela que inspirou a Teresa Torga de Zeca Afonso

Liberdade na pintura do Restelo que apagou Américo Tomás e na louca nua do Rossio…

Na sequência do golpe de 25 de Abril de 1974 levaram Américo Tomás (com Marcelo Caetano, o presidente do Conselho que sucedera a Salazar) para o Funchal de escantilhão (de onde haveria de partir para exílio no Brasil) – e não tardaria que, em nome da igualdade sexual, começaram a fazer-se combates de raparigas em luta livre no Campo Pequeno. Ou que, no Rossio, agente da PSP ao aperceber-se de que Teresa Torga (que de atriz de fama resvalara para o lado agreste da vida) passeava totalmente nua pelas Avenidas Novas correu para ela e sem saber que era louca juntou a gente e pôs à votação: se a deveria levar detida para a esquadra ou se deveria respeitar a sua liberdade de fazer o que lhe apetecesse – e ganhou a liberdade… (As fotos que o DL publicaria na crónica que se lhe dedicou foram captada por António Capela que era, então, um dos dois mais famosos repórteres fotográficos da área do desporto, ele no Record, Nuno Ferrari em A BOLA – e ao lê-la José Afonso escreveu canção dedicada a ousadia que quase todos acharam loucura e chamou-lhe Teresa Torga, simplesmente Teresa Torga e é assim:

No centro da Avenida

No cruzamento da rua

Às quatro em ponto perdida

Dançava uma mulher nua

 

A gente que via a cena

Correu para junto dela

No intuito de vesti-la

Mas surge António Capela

 

Que aproveitando a barbuda

Só pensa em fotografá-la

Mulher na democracia

Não é biombo de sala

 

Dizem que se chama Teresa

Seu nome e Teresa Torga

Muda o pick-up em Benfica

Atura a malta da borga

 

Aluga quartos de casa

Mas já foi primeira estrela

Agora é modelo à força

Que a diga António Capela

 

T’resa Torga T’resa Torga

Vencida numa fornalha

Não há bandeira sem luta

Não há luta sem batalha

Como Salazar não gostava de futebol, não se dava ao trabalho de ir ao Estádio Nacional presidir à final da Taça, mandava Américo Tomás que logo criou um ritual: antes do jogo posar com ambos os finalistas em foto de praxe

Depois de Teresa (a Torga), Liberdade também apareceu pela noite no Restelo, a 5 de maio de 1974. Ainda com Tomás e Caetano na Madeira, estava o campeonato de futebol a correr para o seu fim. Antes de o Belenenses bater o Farense alguém entrou à sorrelfa no estádio e pintou de branco letras que diziam: Almirante Américo Tomás – e escrevendo Liberdade, ficou: Estádio da Liberdade.

A BOLA publicou a foto e Acácio Rosa escreveu carta aberta lamentando a pichagem e defendendo que Américo Tomás «fora tudo no clube», de «simples sócio a sócio honorário», de presidente da direção a presidente honorário, recordando que «ninguém mais do que ele» contribuíra para que o «estádio do clube fosse livre da tutela dos poderes públicos» – e, magoado, desafiou:

Se, por injustiça, quiserem tirar-lhe o nome de lá, ao menos façam-no em respeito pelos estatutos, como o fizeram para o lá pôr: em Assembleia Geral.

Não, os demais sócios não acharam, como Acácio Rosa, que fosse injustiça retirar-lhe Américo Tomás do nome – e em vez de Estádio da Liberdade ficou Estádio do Restelo.

Ao chegar ao Brasil para o seu exílio, Américo Tomás tratou de enviar para a secretaria do Belenenses carta com um lamento: que «desarriscado de sócio» não pudesse continuar a pagar os 60 escudos mensais da quota – e mágoa maior vincou: «não poder ver a menina dos seus olhos, o clube da sua eleição» a jogar.

 

… e para presidente do Belenenses foi o coronel que se recusara a estar em cerimónia com Tomás

De um instante para o outro, o Belenenses também ficou sem presidente. Fernando Baptista da Silva, major que o marcelismo pusera diretor da Polícia de Trânsito, escapou, também ele, bruscamente para o Brasil – e em fevereiro de 1975 o Belenenses elegeu Joaquim Marcelino Marques para o lugar. Era coronel da Administração Militar – e no Outono de 1973 dava aulas na Academia Militar. Quando, do Ministério da Defesa, lhe comunicaram que na sessão solene de abertura do ano letivo estaria «honrosamente» o almirante Tomás, Marcelino Marques ripostou:

Pois, informo V. Exa. de eu que não estarei presente à cerimónia! Porque eu me recuso a estar presente em atos presididos por esse senhor.

Depois dos retratos de Marcello Caetano e Américo Tomás tirados das paredes (de escolas até…), no Restelo tiram-lhe o nome (escrito como… Thomaz) do estádio do Belenenses

Puniram-no com alguns dias de prisão disciplinar e aplicaram-lhe transferência de unidade. Continuou a conspirar contra o regime ao lado de Vasco Gonçalves, seu companheiro de escola. Que, quando assumiu o governo, o chamou para administrador do Diário de Notícias – e Marcelino Marques pôs na direção José Saramago.

Com Saramago, Urbano Tavares Rodrigues, José Gomes Ferreira, na célula dos escritores do PCP, estava Manuel Sérgio, o filósofo. A Manuel Sérgio, Marcelino Marques puxou-o para seu vice-presidente e antes da posse brincou:

Quem me desafiou para este posto foi o dr. António Manuel Pereira, que há alguns anos bem me conhece, do tempo em que eu fazia parte de uma tertúlia contestatária, de oposição, na altura em que o Belenenses, a nível de dirigentes chegava a parecer uma filial da União Nacional. Eu costumava dizer por laracha: vocês dizem que os árbitros não nos gramam, mas que querem? Os árbitros são contra a União Nacional. Agora, é altura de darmos ao clube um sentido novo…

Uma das suas primeiras ações fora levar à AG a questão da mudança de nome do estádio. A ideia era que ficasse mesmo Estádio da Liberdade. Acabou por ficar do Restelo. Acácio Rosa votou contra deixar de ser Estádio Almirante Américo Tomás (percebeu-se porquê em carta aberta que A BOLA publicou…) – e para Manuel Sérgio era posição que nada tinha de política:

O velho Acácio era compadre de Humberto Delgado, o eng. Chaves Rosa, seu filho, fora casado com Iva Delgado. Tinha ficha na PIDE, mas era pessoa de grande sentimento, incapaz de esquecer o que Tomás fizera pelo Belenenses. Conhecera-o nos primeiros tempos do Belenenses, quando o Belenenses era o clube dos marinheiros, ficaram amigos, mesmo que as suas ideias não fossem as mesmas.

 

 

AIPS faz cem anos e lança ‘100 histórias olímpicas’ e procura os campeões do centenário

Gianni Merlo (à direita) presidente da AIPS, e Jura Ozmec, secretário-geral, no estúdio de TV do jornal La Gazzetta dello Sport, em Milão, durante a emissão de celebração dos cem anos da AIPS

O presidente da AIPS, Gianni Merlo, aproveitou a singela celebração dos cem anos da organização para lança uma votação para eleger o melhor desportista destes cem anos e ainda um site com a história de cada país nos Jogos Olímpicos contada e cem segundos por um jovem jornalista.

Merlo e Jura Ozmec, o seu secretário-geral, foram os protagonistas da emissão que, em menos de uma hora, marcou o centenário da AIPS, que foi seguida por 300 pessoas em direto via streaming de todo o mundo via zoom. Realizaram-na a partir do estúdio de TV do jornal La Gazzetta dello Sport, em Milão, um jornal mais velho que a AIPS )foi fundado a 3 de Abril de 1896). O evento começou com ‘Nessun dorma’, música do ‘Turandot’ do compositor Puccini, que faleceu precisamente em 1924 e que foi escolhido como tema do centenário através de uma parceria com a Fundação Festival Puccini, dona dos direitos.

Merlo homenageou os dois primeiros presidentes, o rancês Frantz Reiche e o belga Victor Boin e mostrou-se “muito emocionado” também por estar na Gazzetta, “a minha casa durante 50 anos”. Alertou para o facto de o Jornalismo desportivo”estar ameaçado por muitos fatores, como a Inteligência Artificial se não for regulada como se vai discutindo, porque rouba o nosso trabalho sem pagar nada por isso”. Recordou que a Associação Internacional da Imprensa Desportiva nasceu para lutar por melhores condições de trabalho dos profissionais e que até a UEFA ouve – e age em conformidade – o que lhe é dito pela AIPS. “O nosso dever é continuarmos esta luta que foi iniciada há cem anos”. Gianni Merlo mencionou também a presença cada vez maior dos chamados ‘content creators’ em provas desportivas e que põe problemas de integração (são ou não jornalistas?) e de condições de trabalho. “Temos Grupos de Trabalho a estudar quer a AI quer a possibilidade de integrar ‘content creators’ como Jornalistas”:

‘100 histórias olímpicas por 100 jovens repórteres em 100 sgundos’ está integrado no AIPS Centennial Project e 130 jovens repórteres já tomaram parte nesta iniciativa que pode ser consultada em www.aips100.com. Foi uma ideia de Gianni Merlo que vai continuar a ser desenvolvida.

Outra marca do centenário será o Campeão do centenário, masculino e feminino, através de votação em www.aipsmedia.com’ que começou precisamente nesta terça-feira e corre até dia 26, data do início dos Jogos de Paris 2024.

Os vencedores vão ser anunciados a 6 de Agosto, numa belíssima sala da sede da Unesco em Paris, onde às 8h30 da manhã a AIPS vai receber muita gente, nomeadamente, espera-se, o presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach.

 

Em vez de ir à final da Taça entre o Sporting e o Benfica, o presidente da FPF foi defender preso político que ainda houve quando já não havia Ditadura…

Nos 50 anos

do 25 de Abril,

desporto e mais 

Por ANTÓNIO SIMÕES

Em A Bola do dia 10 de janeiro de 1974 notícia não era apenas a passagem de José Maria Pedroto a selecionador nacional – era Jorge Fagundes na presidência da FPF (e, não o dizendo explicitamente, uma coisa e outra eram sinais de um 25 de Abril a chegar ao futebol antes do 25 de Abril chegar ao país).

No futebol e no país, figuras históricas eram o avô e a avó de Fagundes. Antes, muitos anos antes, vendo futebolistas em treinos ou jogos na cerca do Convento das Irmãs Salésias, na ânsia de copiá-los, alunos da Casa Pia inventaram as «cheias»: bolas de trapos e papéis que pontapeavam nos claustros dos Jerónimos. Ante o entusiasmo que, em fogacho se foi soltando sempre mais e mais, Francisco Simões Margiochi, o seu provedor, mandou vir de Londres, uma «bola a sério». Entregou-a, solene, no Páteo das Malvas, a Januário Barreto – e, a 22 de janeiro de 1897 a sua equipa viveu manhã histórica na primeira vitória de portugueses sobre os ingleses do Carcavelos.

Januário Barreto no Grupo Escolar da Casa Pia que bateu os ingleses do Carcavelos Club

O AVÔ QUE SE TORNOU GRANDE FIGURA DO FUTEBOL NA CASA PIA E FOI O PRIMEIRO PRESIDENTE ELEITO DO SPORT LISBOA

Januário Gonçalves Barreto Duarte nascera na Aldeia do Souto, Covilhã, e, órfão de pai, chegara à Casa Pia aos nove anos. Já médico formado, não estivera na noite da fundação do Sport Lisboa (na união dos casapianos da Associação do Bem com o grupo dos irmãos Catataus) mas logo aderiu ao projeto – e mal o escritório da Farmácia Franco passou a ser acanhado para tal, as reuniões do clube passaram para o seu consultório da Rua Nova de Almada. A 18 de dezembro de 1906, foi eleito presidente do Sport Lisboa – e para a presidência da Liga Portuguesa de Futebol e da Sociedade Portuguesa de Promoção Física, o escolheram também, fora ele quem redigira as primeiras leis de arbitragem que se aplicaram aos Campeonatos de Lisboa (a primeira prova oficial que o futebol português teve…)

Por entre atriz em topless e Misses a jogar à bola, o Sporting-Benfica iludiu Marcelo e assustou Otelo…

Nos 50 anos

do 25 de Abril,

desporto e mais…

Por ANTÓNIO SIMÕES

Pelos cinemas andava já em furor Eusébio, a Pantera Negra, o filme de Juan de Orduña (em que quer ele, quer Flora, fazim papéis de si próprios) – e, que durante as suas filmagens, tivera as areias do Estoril a arder com «ousados biquínis» que por lá foram passando. António de Spínola escrevera Portugal e o Futuro – e os 2000 exemplares postos à venda a 100 escudos ao meio dia de 22 de Fevereiro na livraria do Apolo 70 esgotaram em 15 horas. Quase em todo o lado aconteceu o mesmo. Conta-se que Marcelo Caetano, o Presidente do Conselho que sucedera a Salazar, acabando de lê-lo, largou o desabafo num alvitre:

Um golpe de Estado é agora inevitável.

Nesse abalo mais ou menos enfarinhado se precipitou Caetano para «fim-de-semana a are»sno Buçaco e no regresso solicitou a Américo Tomás (o Presidente da República que antes de ir para Ministro de Salazar fora presidente do Belenenses) que o exonerasse. Não exonerou. Após afastar Francisco Costa Gomes e António de Spínola da chefia do Estado-Maior das Forças Armadas, Caetano voltou a solicitar que o demitisse – e a resposta de Tomás foi como a da outra vez:

Não e já é tarde para qualquer de nós abandonar o cargo!

Vasco Lourenço antes de ser preso na Trafaria, simulou golpe de rapto com Otelo…

Na certeza de estarem sem freio as «reuniões de conspiração dos capitães», o governo (que já demitira Horácio de Sá Viana Rebelo dando-lhe a sua cabeça na fé de que isso lhes esfriasse a contestação aos decretos que permitiam que oficiais milicianos ganhassem privilégios antes apenas conferidos ao Quadro Permamente, o rastilho que levou à criação do Movimento das Forças Armadas) atirara Vasco Lourenço, Carlos Clemente, Antero Ribeiro da Silva e David Martelo compulsivamente para os Açores e para a Madeira – e Vasco Lourenço (que haveria de tornar-se figura de destaque no Sporting, não apenas como membro do Conselho Leonino), revelá-lo-ia (na Visão História – Vencedores e Vencidos, publicada nos 50 anos do 25 de Abril):

A 5 de março tinha acontecido em Cascais uma das mais importantes reuniões do movimento em que foi tomada a decisão de se fazer o golpe de Estado. O governo soube e tentou reagir, transferindo compulsivamente quatro capitães, mas fê-lo de uma forma pífia, porque tinha medo de se meter conosco. Fui um dos escolhidos porque era o principal responsável pela constituição do movimento. Era o coordenador da parte operacional e de toda a ligação.

 «FUI TER COM O OTELO E DISSE-LHE: ESTOU AQUI PARA TU ME RAPTARES»