Sem crónica do jogo entre o Sporting (da Miss) e FC Porto (do Guttmann), talvez não houvesse o golpe da vitória…

Nos 50 anos

do 25 de Abril,

desporto e mais (6)

Com vista ao Europeu de futebol de 1972, a FPF convidara Vítor Santos, chefe de redacção de A BOLA, para selecconador nacional. Não aceitou, foi Gomes da Silva. Durante a campanha, abriu-se o jogo contra a Escócia a uma mundanice: Riquita, a Miss Angola que haveria de tornar-se Miss Portugal foi de calção curto e bota até ao joelho ao estádio dar o pontapé de saída, ao lado de Eusébio.

Com Marcello Caetano no lugar de António Oliveira Salazar, na Presidência do Conselho, a Censura alargara a sua malha mas ainda havia quem, pressuroso, mandasse pintar slips ou desenhar soutiens nas fotografias de mulheres em poses eróticas que revistas mais rebeldes publicavam. E, com a RTP a transmitir os concursos de misses como se fossem jogos de futebol, feministas indignaram-se e montaram manifestações à porta do Casino do Estoril com cartazes dizendo: «Não é este tipo de promoção que nós queremos»...

NO VITÓRIA, PARA CASAR ERA PRECISO AUTORIZAÇÃO

Treinador do Vitória de Setúbal, era José Maria Pedroto. Na temporada de 1972/1973, só a custo é que o Benfica (de Jimmy Hagan) lhe impedira a vitória no campeonato e, semanas depois, Xavier de Lima, o presidente co clube que criava cavalos e era empresário de construção civil decidiu colocar os jogadores vitorianos sob alçada de regulamento que Artur Jorge, presidente do Sindicato, reputou, num ápice, de «esclavagista». Impedia-os de «frequentar praias ou piscinas», obrigava a que as entrevistas dependessem de «ordens superiores e exames prévios» – e até para casar precisavam de «autorização», podendo fazê-lo unicamente nas «férias do verão».

Mal Pedroto tomou conhecimento do documento, demitiu-se, com clamor raro à época:

Não posso admitir a lei da rolha e se eu sou um homem livre quero que os outros também o sejam…

Pedroto deixou Vitória de Setúbal por não admitir a «lei da rolha» e outras regras que o presidente queria impôr aos jogadores

 

Sem que Jorge Fagundes já se tivesse tornado (num outro sinal dos tempos) «presidente revolucionário» na FPF, Martins Canaverde chamou Pedroto a selecionador nacional. Com Fagundes, iria, por fevereiro de 1974, Marcelo Rebelo de Sousa para a federação. Cabendo-lhe, entre as funções de vogal da direção, a missão de porta-voz, promovia contactos com a imprensa de quinze em quinze dias na ideia de que para que na Praça da Alegria os telhados fossem de vidro. Marcello Caetano fazia coisa parecida ao país através das Conversas em Família na televisão – e, numa das suas «visitas à Província», jornalista apanhara na taramela de uma velhinha sentada à escada da sua pobre casa de pedra, a afirmação mais ou menos sussurada:

–  Este Salazar é muito diferente do outro, ri-se e vem ver a gente.

No regresso da Guiné, António de Spínola (que sobretudo nos anos 40 fora uma das principais figuras do hipismo nacional, vencendo concursos de saltos até no estrangeiro) escrevera livro que quem o viu antes da chegada a prelo percebeu que seria (ele mesmo) «revolução» (antes da revolução).

O NÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA QUE FORA PRESIDENTE DO BELENENSES

Chamando-lhe Portugal e o Futuro, defendia solução política para a guerra colonial (admitindo-a perdida…) e que o futuro das colónias (à exceção da Guiné) se fizesse não pela independência imediata, mas pela via federalista. Os 2000 exemplares postos à venda (a 100 escudos) ao meio-dia de 22 de Fevereiro na livraria do Apolo 70 esgotaram em 15 horas. Quase em todo o lado aconteceu o mesmo. Acabando de lê-lo, parece que Marcello Caetano desabafou:

–  Um golpe de Estado é agora inevitável. 

e, alvoroçado, partiu de fim-de-semana a ares para o Buçaco. No regresso solicitou a Américo Tomás (que, por setembro de 1944, fora da presidência do Belenenses para Ministro de Salazar) que o exonerasse, o Presidente da República não exonerou, atirando-lhe o murmúrio ao ar:

–  Não, senhor professor… Se, agora, for preciso ir ao fundo, vamos todos juntos…

Nos último anos da Ditadura o Estádio do Belenenses era… Estádio Almirante Américo Thomaz (escrito o Thomaz à antiga portuguesa como ele queria)

 Na sua secreta contestação (já para além da mera questão corporativa que levara à demissão de Horácio de Sá Viana Rebelo, o Ministro da Defesa que fora presidente do Sporting, o presidente do Sporting que ganhara a Taça das Taças em 1964) o Movimento dos Oficiais das Forças Armadas já decidira enveredar pela via do golpe – e, faltando, em ostensiva provocação, Francisco Costa Gomes e António de Spínola à desesperada manifestação de apoio da «Brigada do Reumático» levada por oficiais mais antigos a Caetano e Tomás (realizada a 14 de março de 1974) – o governo demitiu-os a ambos da chefia do Estado-Maior das Forças Armadas. O Presidente do Conselho ainda voltou a solicitar ao Presidente da República que o demitisse e a resposta foi como a da outra vez:

–  Não, senhor professor… Já é tarde para qualquer de nós abandonar o cargo!

ANTES DO CONSELHO LEONINO, O «ESTAPAFÚRDICO SEQUESTRO» E O CONSELHO LEONINO

Para o que seria, pois, o golpe de ataque ao regime criara-se direção formada por dois capitães: Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Lourenço e um major: Vítor Alves. Desconfiando que  andavam em reuniões de conspiração, Joaquim Silva Cunha (que a 7 de novembro de 1973 sucedera a Sá Viana Rebelo como o Ministro da Defesa) atirou Vasco Lourenço, Carlos Clemente, Antero Ribeiro da Silva e David Martelo compulsivamente para os Açores e para a Madeira – e de Otelo Saraiva de Carvalho partiu, num fogacho, a ideia de se sequestrar Vasco Lourenço para lhe evitar a transferência.

Vasco Lourenço (que haveria, depois, de surgir como figura de destaque no Conselho Leonino, chegando até a ser cogitado para a presidência do Sporting-) ainda esteve escondido durante 24 horas num apartamento vazio de Miraflores, alimentado por sandes que Otelo e Diniz de Almeida lá iam, sorrateiros, levar-lhe. Porém, de um instante para o outro, fartou-se do… «estapafúrdio sequestro» e, indo entregar-se, sob promessa de que se lhe rasgaria a ordem de transferência, em vez de perdão, prenderam-no no Forte da Trafaria.

Ao ouvir-se notícia do afastamento de Spínola e Costa Gomes, a reação do MFA foi determinada no avançar-se de novo para o golpe, «Vamos, vamos prá porrada!» Otelo Saraiva de Carvalho ainda vacilou:

O que eu acho é que vamos fazer grossa asneira…

e Casanova Ferreira, um dos mais temerários conspiradores, retorquiu-lhe:

Qual quê! Basta o governo saber que há unidades a sair contra ele e cai…

Otelo transigiu para não dar «parte de fraco» e ao encontrar-se com Vítor Alves insinuou-se-lhe a desesperança mais do que o desalento:

Isto vai dar buraco e vou ser preso. Preso está o Vasco Lourenço, ficas tu sozinho na direção mas não, isto não pode parar…

 

COMO O FC PORTO (DE GUTTMANN) TAMBÉM ENTROU NA HISTÓRIA

Fora por um triz que a PIDE (que então se chamava DGS) não apanhara Otelo em buscas a casas de dois descobertos conspiradores: Almeida Bruno e Manuel Monge – e na madrugada desse dia 16 de março deu-se mesmo o click para se «marchar sobre Lisboa». Quem já pela manhã passou pela Rotunda do Aeroporto ainda deu de vista com aparato de forças do Exército, da GNR, da Legião e da PIDE-DGS, mas só escutando noticiário da BBC saberia o que se passara: às quatro da matina coluna com 200 homens, comandada por Armando Marques Ramos, largara do Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha, «para derrubar o governo». Partindo na fé de que pelo caminho outros contingentes se lhe juntariam, ao perceber-se que não Casanova Ferreira e Manuel Monge intercetaram-na, solicitando-lhe marha-atrás – e junto às portagens se renderam os «conspiradores».

Ao aperceber-se do desfecho, Otelo Saraiva de Carvalho só ao início da noite cumpriu a ordem de «prevenção rigorosa no País» (forma de se exigir que todos os militares se apresentassem nos seus quartéis ou unidades») – e a falta à Academia Militar (onde estava como professor) justificou-a com um alibi (e o jeito de ator que foram na sua juventude em Lourenço Marques): que uma saída familiar de fim de semana para fora de Lisboa fez com que já tarde e por acaso soubesse dos acontecimentos».

Aos acontecimentos espiolhara-os Otelo, dissimulado, na zona da Encarnação – de lá saindo «invadido por uma sensação calma e gostosa». «Sensação calma e desgostosa», jutificá-lo-ia, depois por ter visto o que viu:

… o vaivém constante de militaes e agentes da PIDE, de polícias e legionários, descomandados, fazendo cada um o que bem lhe apetecia ou cumprindo uma ordem de repente berrada por um oficial, com as autometralhadoras e os blindados, os jipes e as belliets a monte, lado a lado com uma crescente multidão de curiosos.

Por tal razão, a Otelo não lhe chegaram dubiezas ou ceticismos:

Uma ação firme, sujeita a um plano bem traçado e a um comando centralizado vencerá com um piparote e em dois tempos as forças do regime.

Era essa mensagem, pois, que precisava que se passasse – sem perda de tempo ou de ânimo, antes ainda do FC Porto subir a jogo com o Sporting na esperança de que Béla Guttmann voltasse a fazer do clube campeão, 15 anos depois do título que lhe dera apesar dos dez minutos a mais que Calabote deixara que se jogassem na Luz, sem que assim o Benfica fizesse à CUF o golo que lhe faltava para a festa…

No República dava-se imagem codificada, nos outros jornais dava-se ideia de que «reinava a ordem em todo o país»….

PARA OS PORTISTAS HOUVE MAIS QUE O GOLO QUE OS MATOU…

Nessa tarde de sábado, houve em Alvalade –  e a primeira página de A Bola do dia 18 de março de 1974 tinha à sua cabeça quatro fotos do desafio – e, entre elas, a legenda em título: Alvalade – o golo da dúvida.

Eram imagens do 2-0 – do golo de Dinis que deixara os portistas descabelados em campo e no balneário. Béla Guttmann, seu treinador, preferiu calar-se mas Abel, o avançado-centro que fizera história no Benfica, não:

Por que não mandaram outros árbitro para aqui? O sr. César Correia até fazia sinais para os jogadores do Sporting. Incrível, mas verdadeiro! Se não quiserem que o campeão seja o FC Porto digam desde já. Não enganem ninguém. Aquele segundo golo é inacreditável. Ele jurou pelos filhos que não tinha havido falta nenhuma, como foi possível?! Se querem que o Sporting seja campeão, deem-lhe já o título, escusam de andar, aos poucos, a fazer-lhe estes favores.

Equipa do FC Porto que ficou com as esperanças do título (quase) perdidas no dia em que o seu jogo de Alvalade foi imagem de esperança para os «insubordinados»…

Rolando (que estivera na conquista da Taça de Portugal que Pedroto dera aos portistas em 1968 e era o único título do clube no futebol desde 1959) não seguiu Abel na truculência da caramunha mas o árbitro sob o seu fogo de bateria:

Só não conseguimos o empate porque o senhor César Correia não quis, o segundo golo veio numa altura má e… foi ilegalíssimo, eles estavam a cair e em nós teve efeito pernicioso.

Tibi (que, no título da sua crónica Homero Serpa considerou o «fogueiro» do «Expresso Verde») defendeu-se igualmente ao ataque:

No primeiro golo, a bola partiu de Baltasar, bateu em Bené, apanhou Dinis em posição feliz – foi de sorte. No segundo, saltei e quando tinha a bola na mão o Dinis deu-lhe uma sapatada. Larguei-a. Se fosse eu a largar a bola, por minha culpa, ela teria ido para trás e nunca para a frente – e foi esse golo que nos matou…

Fora a 7 de setembro de 1973 que Manuel Nazaré (o médico de sangue negro que nascera em Moçambique e se tornara analista de António Oliveira Salazar nos últimos anos da vida do Ditador) passara a presidência do Sporting a João Rocha – e, desse jogo com o FC Porto, queixas não deixaram, contudo, de soltar também entre os sportinguistas. Por exemplo, Nélson a lamentar o «golo limpo» que lhe anularam:

–  Não, não carreguei o Tibi!

e de Dinis a revelá-lo a Joaquim Rita:

–  O 1-0 resultou de uma daquelas jogadas que só saem às vezes. O remate saiu-me bem e não tinha defesa. No 2-0 nem toquei no Tibi.Fiz a minha obrigação de empurrar a bola para a baliza, depois do Tibi a ter largado. E atenção: o FC Porto ainda não ficou afastado da corrida para o título…

Sporting de Mário Lino que batendo o FC Porto (na tarde em que falhou o «levantamento dos Caldas» ficou mais perto do título de campeão de 1973/1974 (o primeiro da democracia)

NO JORNAL REPÚBLICA, A MENSAGEM E A FINTA

Tendo, pois, Otelo Saraiva de Carvalho decidido atirar-se de pronto ao esboço de novo plano  para que o «movimento não morresse na praia» – para que, outros contestatários não esmorecessem na sua luta, a mensagem de que a hora não deixara de ser de esperança, saiu da crónica do Sporting-FC Porto que, no jornal República (dirigido por Raul Rego que haveria de ser apontado para primeiro Primeiro-Ministro da democracia, não o sendo por António de Spínola preferir Adelino da Palma Carlos, presidente da Assembleia Geral do Sporting entre 1946 e 1957, tornando-se, entretanto, opositor do regime em mais do que ser mandatário da candidatura de Norton de Matos contra Óscar Carmona) que  Eugénio Alves transformou numa finta à Censura (e não só…)

Sob o título (aparentemente inocente): «Quem travará os leões?» – as primeiras linhas foram escritas com se os sportinguistas simbolizassem as forças leais ao presidente do Conselho e os «homens do Norte» simbolizassem os militares (já detidos pelo fracasso do golpe da Caldas) que tinham «retirado, desiludidos, pela derrota»).

Apesar de admitir (como se fosse no jogo) «o adversário da capital mais bem organizado e apetrechado», Eugénio Alves foi ainda mais enleante (e sibilino) no modo como passou a mensagem que o MFA queria que se passasse: «Perdeu-se uma batalha mas não se perdeu a guerra».

30 anos depois do golpe das Caldas em linguagem de código no República, Eugénio Alves contá-lo-ia (a Clara Teixeira, em reportagem no Público):

O golpe foi importante porque mostrou a fragilidade do regime. Não deu certo porque foi uma coisa precipitada, pouco planeada. Receei a reacção do Vítor Direito, então chefe de redação, porque a censura andava muito em cima do República.

Só o montador da tipografia é que estava avisado. Tinha-lhe dado outro lead, com rigorosamente o mesmo número de caracteres, para que ele pudesse fazer a substituição caso a coisa corresse mal com a Censura…

Em 1974, Eugénio Alves fora do Diário de Lisboa para o República (jornal já notado pela contestação à Ditadura, tendo como colaboradores Mário Soares, José Jorge Letria, Gustavo Soromenho, Alberto Arons de Carvalho…)

Não, não correu nada mal

… até o Vítor Direito reagiu bem

no dia seguinte, enviado-especial do Le Monde abriu artigo a desvelar o modo como assim se «iludira a censura», noticiando o que a ditadura procurara esconder: «que tinha havido uma vaga tentativa de rebelião mas que a ordem tinha sido prontamente reposta». Que não, se veria 39 dias volvidos – e ao logo desses 39 dias o que também se viu foi a Censura (que era o Exame Prévio) a olhar com mais do que dois olhos para o República:

… pedia as provas das páginas todas e não só os textos e depois atrasava o visto, estava sempre a atrasar o visto.

Faleceu Fernando Emílio

 O jornalista Fernando Emílio morreu esta sexta-feira, aos 77 anos, vítima de doença oncológica. Natural do Ciborro (Montemor-o-Novo, é especialmente recordado pela sua ligação ao ciclismo, à rádio e também ao jornal A Bola..

Fernando Emílio

Fernando António Facas Emílio, de seu nome completo, nasceu a 16 de Dezembro de 1946 em Ciborro, no seu Alentejo querido. Sobrevive-lhe a mulher, Maria Felizarda Candeias Emílio, e os seus filhos Carlos e Nelson. A todos o CNID apresenta as mais sentidas condolências. 

Em agosto do ano passado, o jornalista foi homenageado pela organização da Volta a Portugal, por cumprir 50 edições na prova, recebendo ainda a medalha e o diploma de Sócio de Mérito da FPC.

Houve tempos em que se distanciou do CNID, mas felizmente as divergências foram sanadas nos últimos tempos. Há poucos meses facilitou até os contactos entre o CNID e organizações internacionais de ciclismo. E o Fernando Emílio era sobretudo alguém com espírito de Jornalista. Conta-se que um jogo do Mundial 82, de futebol, em Espanha, começou atrasado porque ele estava no relvado a entrevistar um dos intervenientes.

O funeral de Fernando Emílio realiza-se este domingo, dia 12, às 15:00, em Évora, e o velório tem lugar  hoje na igreja da Sagrada Família, nós Álamos, também naquela cidade alentejana.

Vote, caro sócio!

Aproxima-se a habitual Gala do CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto, a realizar dia 20 de Maio em Viseu, e tradicionalmente os nossos sócios são chamados a votar para o melhor jogador dos campeonatos profissionais de futebol e o jogador-revelação da I Liga.

A Direção já escolheu a lisa (em baixo) com os cinco jogadores que mais se destacaram em cada uma das categorias na época de 2023-24. Deve votar (sócios com as quotas em dia) ou respondendo ao mail que deve ter recebido, indicando o nome, e o número de sócio, ou enviando mail para cnid@cnid.pt, começando pelo melhor e acabando no menos bom, quer para a I, quer para a II Liga e para a revelação ou só para aquelas que entender.

Terá que o fazer até às 13 horas da próxima segunda-feira, dia 13 de Maio de 2024.

MELHOR JOGADOR  I Liga

 

Viktor Gyokeres (Sporting Clube de Portugal)

Angel Di Maria Sport Lisboa e (Benfica)

Simon Banza (Sporting Clube de Braga)

Pedro Gonçalves (Sporting Clube de Portugal)

Jota Silva (Vitória Sport Clue)

 

FUTEBOLISTA REVELAÇÃO I LIGA

Ricardo Velho (Sporting Clube Farense)

Francisco Conceição (Futebol Clube do Porto)

João Neves (Sport Lisboa e Benfica)

Rodrigo Gomes (Grupo Desportivo Estoril-Praia)

Otávio Ataíde (Futebol Clube do Porto)

 

MELHOR JOGADOR  II Liga

Lucas Silva (Clube Sport Marítimo)

Chuchu Ramirez (Clube Desportivo Nacional)

Bruno Almeida (Clube Desportivo Santa Clara)

Nené (AVS Futebol SAD)

Wendel Silva (Futebol Clube do Porto)

 

 

 

 

 

 

Depois de tirar sangue a Salazar, pôs o Sporting a caminho da dobradinha em democracia…

Depois de ganhar o Campeonato de 1973/1974 ao Benfica, o Sporting ganhou a Taça de Portugal (já sem ditadura), deixando de ter presidente de sangue negro

Nos 50 anos

do 25 de abril,

desporto e mais (5)

Por ANTÓNIO SIMÕES

Não era normal: a 12 de junho de 1968 António Oliveira Salazar, o Presidente do Conselho, apareceu muito «pálido e esmorecido» à reunião com os seus ministros – e repetiu-lhes, como se fosse nova, exposição que já lhes fizera. Estranhando-o todos os presentes, ninguém lhe chamou a atenção – «para não o preocupar». Houve, porém, quem, insinuante, o aconselhasse Salazar a ir de pronto para o Forte de Santo António de férias, que era tempo de veranear – pondo-se, ele, assim, em remanso.

Salazar foi e chegando agosto, nesse dia dia 3 de agosto levantou-se cedo e, pondo-se à espera do calista, ao sentar-se numa cadeira de lona, ela desconjuntou-se, ele caiu para trás, bateu com a cabeça no chão.

Maria de Jesus, a sua governanta, num ataque de fúria, atirou o que restava da cadeira ao mar – e, resmoneando, Salazar proibiu-a de chamar o médico. Achando-o estranho, dois dias depois telefonou, alvoroçada, ao prof. Eduardo Coelho. Correu para o forte, não tardou a decidir interná-lo de urgência na Cruz Vermelha.

Após sofrer AVC, entrou em coma. O cardeal Cerejeira, Patriarca de Lisboa que fora amigo que fizera na Universidade de Coimbra, ainda se precipitou a dar-lhe a extrema-unção mas, mesmo perante os sinais de melhoria, a 27 de setembro de 1968, Américo Tomás entregou a presidência do Conselho de Ministros a Marcelo Caetano.

A FARSA DE SALAZAR A PENSAR QUE AINDA MANDAVA

A pouco e pouco, António Oliveira Salazar foi regressando à vida agarrado a uma bengala, com uma parte do corpo paralisada, a memória recente perdida. Os médicos, julgando que a verdade o mataria, aconselharam que o levassem para São Bento e lhe dessem a ideia de que «continuava a mandar». Os antigos ministros iam ao palácio a fingido despacho, o Presidente da República passava por lá também a dar sinal de realidade à fantasia.

Salazar não lia jornais, não via televisão, não ouvia rádio – mas dava entrevistas. Uma para França. Nela, Roland Faure percebeu a farsa em que o tinham posto, denunciou-a, numa peça que terminava assim: «Estranha e dramática situação, impregnada da grandeza irreal deste personagem shakespeariano: o rei que não quer morrer…» (Os 3000 exemplares do L´Aurore que deviam vir de Paris para Lisboa foram bloqueados à entrada pela PIDE e a Censura não permitiu que se publicasse nos media nacionais uma linha a falar dessa entrevista fantasmagórica de Salazar.)

43 especialistas se envolveram no tratamento de António Oliveira Salazar. Um deles era Manuel negro e moçambicano que fora médico do futebol do Sporting – e no Sporting haveria de ser ainda mais…

NETO DE NEGOCIANTE DE ESCRAVOS COM MÃE MUÇULMANA

Neto (por via paterna) de um negociante de escravos que fora de Goa para a Zambézia, a mãe (muçulmana sunita convertida ao catolicismo) era igualmente de uma das famílias mais abastadas de Quelimane, onde Manuel Henriques Nazaré nascera, por maio de 1911.

Licenciado na Faculdade de Medicina de Lisboa, estava a fazer especialização em Análises Clínicas e Bacteriologia para o St. Georg Hospital de Hamburgo – e atirando-o a II Guerra Mundial de retorno a Portugal, a 18 de março de 1943 fez-se sócio do Sporting.

Manuel Nazaré, moçambicano de sangue negro que foi médico de Salazar

Justificando-se a criação (em 1947) do Conselho Geral «como corpo consultivo que se destina a manter as tradições gloriosas do SCP e a zelar pelo seu prestígio e continuidade dentro do pensamento dos seus fundadores»  – escolhido para lá em 1952, Manuel Nazaré (já professor da Faculdade de Medicina de Lisboa) ficou seu «membro vitalício». Distinguido como Sócio Grande Benemérito «pelo empenho na construção do Estádio de Alvalade», a 19 de março de 1962, o contra-almirante Joel Pascoal levou-o para seu Vice-Presidente para as Atividades Desportivas.

O PRÍNCIPE NEGRO A TIRAR SANGUE COMO NINGUÉM TIRARA

Foi por essa altura que, o professor Eduardo Coelho chamou Manuel Nazaré (que, então, ainda tinha o apelido assim escrito: Nazareth)  a São Bento com missão de tirar sangue a «Sua Excelência, o senhor Presidente do Conselho» (porque analista que antes o tentara falhara a colheita por cinco vezes) – e, em Máscaras de Salazar, Fernando Dacosta pôs assim história contada pelo Dr. Nazaré, ele próprio: «Estava sentado quando entrei. Levantou-se, despiu o casaco e arregaçou a camisa. Não tiro sangue a ninguém de pé, disse-lhe. Subimos para o seu quarto. Ele deitou-se e comentou: As minhas veias são muito difíceis de apanhar, não são? São sim, retorqui-lhe. O que não era verdade, eram normalíssimas. Não custou nada. Não percebi, aliás, o que se passara com o colega que me antecedera. Deve ter-se enervado. Salazar ficou tão agradado que exclamou sobre mim: O senhor doutor é um príncipe! – e, tempos depois disse ao presidente da Assembleia Nacional: Temos de fazer deste príncipe um deputado!»

Deputado o fizeram para a IX Legislatura (de 1965 a 1969) – e, pelo caminho, António Oliveira Salazar ainda cogitou indicá-lo para Governador Geral de Moçambique e, ao ouvir-lhe a ideia insistida, Manuel Nazaré aventou-lhe: «Apenas numa condição, o poderia ser: despachando diretamente com Sua Excelência, única maneira de se resolverem os problemas de Moçambique».

Como Salazar lhe afirmou que «isso não poderia ser, pois, seria, passar por cima do Ministro do Ultramar, do dr. Silva Cunha», Nazaré sugeriu-lhe Jorge Jardim (o pai de Cinha) de quem «era amigo e tratava por tu» – e o Presidente do Conselho retorquiu-lhe: «Seria um bom nome, simplesmente está metido na indústria, já não tem o beneplácito das populações». À berlinda saltou, então, Baltazar Rebelo de Sousa que fora aluno de Manuel Nazaré na Faculdade de Medicina – que a 27 de julho de 1968 tomou o posto.

A CAMINHO DA DOBRADINHA, O «HOMEM DO CÉU ESCURO»

Como diretor da FPF estava Marcelo Rebelo de Sousa, o filho de Baltazar – quando Manuel Nazaré se tornou presidente interino do Sporting. Escolhido presidente do Sporting (para suceder a Guilherme Brás Medeiros, o dono do Diário Popular que para lá levara como contínuo um atleta do clube chamado… Carlos Lopes e, no cumprimento dessa função, haveria de levar, amiúde, as provas ao Exame Prévio, como passara a denominar-se a Comissão de Censura com Caetano no lugar de Salazar) fora Orlando Valadão Chagas a 29 de março de 1973.

Depois de Valadão Chagas ter passado pelas direções de Ribeiro Ferreira e Góis Mota (e de ter sido Diretor Geral dos Desportos em 1958), no dia seguinte à sua eleição, Marcello Caetano convidou-o para Secretário de Estado da Juventude e Desporto. Tomando posse a 4 de abril, no minuto seguinte renunciou ao cargo – e a presidente da direção do Sporting subiu Manuel Nazaré, o seu primeiro vice que não perdeu tempo no aviso: «É mesmo e só para ser interino, até que se encontre melhor solução, que a minha vida não permite o que é preciso para se ser presidente do Sporting»,

Foram cinco os meses de Nazaré na presidência interina e, antes de a entregar a João Rocha, despedira Ronnie Allen de treinador e pusera Mário Lino no seu lugar. Com isso salvou parte dessa época (de 1972/1973) com a conquista da Taça de Portugal ao V. Setúbal de José Maria Pedroto.

Mário Lino, o adjunto que Manuel Nazaré puxou a principal e deu ao Sporting a primeira dodradinha da democracia

Enfarinhando-se, adiante, notícia de que Manuel Nazaré se preparava para ir buscar Pedroto, desmentiu-o em A BOLA (do dia 17 de maio de 1973): «O Sporting não poderia encontrar treinador melhor que Lino, mesmo no estrangeiro» – e, na noite de 7 de setembro de 1973 em que João Rocha tomou posse, José Silveira Machado (que continuava presidente da AG) exaltou-o: «O dr. Nazaré foi o homem do céu escuro que não desanimou e, por isso, venceu todas as dificuldades – e sem a sua fé, a sua persistência e a sua vontade inquebrantável, não estaríamos agora a viver esta hora feliz», hora que Mário Lino ainda tornaria mais feliz levando o Sporting à dobradinha quando a Ditadura já se tinha desfeito em Portugal a 25 de abril de 1974…

CNID defende colaborador de Record de atitude abusiva do Torreense

O CNID teve conhecimento da interdição do colaborador do Record, Duarte Nuno Gomes, aos jogos em casa do Sport Clube União Torreense.


Alega o Diretor de Comunicação e Marketing do clube de Torres Vedras que foram publicadas notícias falsas nas páginas do jornal Record, assinadas por este colaborador, e exige que o mesmo se retrate.

O trabalho dos colaboradores da imprensa nacional junto dos clubes é uma ajuda preciosa à investigação e divulgação jornalística, oferecendo um reconhecimento da atualidade junto de fontes de proximidade. O trabalho de Duarte Nuno Gomes ao longo dos anos tem sido reflexo dessa dedicação e conhecimento.

Ao proibir este colaborador de aceder aos jogos em casa do Sport Clube União Torreense, a sua Direcção de Comunicação e Marketing revela um profundo desconhecimento da linha de responsabilidade assumida para a publicação de notícias, imiscui-se numa decisão que só ao jornal Record diz respeito, na distribuição de trabalho aos seus jornalistas e colaboradores, e tenta usar de poder abusivo sobre alguém que acredita estar em posição de fragilidade perante a instituição.

Tudo isto é inaceitável, coloca em causa a liberdade de imprensa e demonstra uma cultura abusiva na relação com os jornalistas. O CNID vem por este meio contestar as alegações do Diretor de Comunicação e Marketing do Sport Clube União Torreense e defender a liberdade das opções editoriais do jornal Record e o direito do colaborador Duarte Nuno Gomes aceder às instalações do clube se para isso for indicado pela entidade com a qual colabora.

Lisboa, 7 de Maio de 2024

A Direção do CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto
Enviado do meu iPhone

Os biquínis proibidos, o general cremado sem a farda vestida e Pinto da Costa e Villas Boas a verem o Benfica ganhar…

 

Nos 50 anos do 25 de abril, desporto e mais (4)

Por António Simões

Vitória sobre o FC Porto (com André Villas-Boas e Jorge Nuno Pinto da Costa a vê-lo) deu ao Benfica a Taça Hugo dos Santos (no ano dos 50 anos sobre o 25 de Abril) – e o que aqui se vai contar é porque Hugo dos Santos deu o nome à Taça da Liga de Basquetebol e o que ele teve a ver com a revolução que desfez a Ditadura em Portugal…

Quando o Movimento das Forças Armadas se lançou à ideia de acabar com o velho e trôpego Estado Novo, Portugal já não era o regime cujo chefe fazia do chapéu o seu principal símbolo social ou que por causa das suas marcas fechavam as suas fronteiras aos Opel Ascona, aos camiões Phoden, às máquinas Kona Coffee.

Também já não era o país em que o governo lançava outras ridículas proibições (como, por exemplo, o uso do biquíni ao jeito da foto que aqui poder levar a multa de 5000 escudos quando, por exemplo, Eusébio recebia 4000 de ordenado no Benfica) ou o embaixador Porras y Porras ficara sem agrément por Salazar ter murmurado, sibilino, ao seu Ministro dos Negócios Estrangeiros:

– Não, não é só pelo nome, é pela insistência, por isso veja lá…

mas, podendo, voltar a fazer-se (por graça da morte de Salazar) concursos de Misses, a Miss Portugal de 1971 foi consagrada com fato de banho de peça única (como a lei ainda determinava em nome da moral e dos bons costumes) – e sendo ela, a Riquita, filha de um diretor do Sporting de Moçâmedes, o Sporting (de Lisboa) deu-lhe a toda a primeira página do seu jornal.

Continuando ainda Portugal (já com Marcello Caetano) a ser o país em que se excluíam matrículas de automóveis começadas por CU, era com mais circunspeção (ou insídia a disfarçar-se…) que os Coronéis do Lápis Azul (que deixando de ser da Comissão de Censura passara a ser no seu eufemismo o Exame Prévio…) telefonavam para as redações dos jornais, sugerindo coisas assim: «O senhor Diretor-Geral da Informação pede o favor que não se dê a notícia de um acaso ocorrido em Aldeia do Bispo, Penamacor: duas crianças, por causa de uma bicicleta, matarem uma terceira».

NA PONTINHA, DE JANELAS TAPADAS

Sim, ainda era assim naquele dia 20 de abril de 1974 em que, numa residência escondida entre Oeiras e Cascais, Otelo Saraiva de Carvalho terminou a distribuição das missões para a revolução – e Hugo dos Santos bateu à máquina o programa do MFA que Melo Antunes escrevera à mão e a proclamação para ser lida aos microfones de uma rádio qualquer. (Foi no Rádio Clube Português e, na véspera do combinado dia 25 de Abril, Vasco Gonçalves ainda sem sinal do estalinismo que o atiraria para os frenesins e os escarcéus do PREC antes pelo contrário, não deixaria de largar, subtil, sinal de descrença a Vítor Alves:

Ah! Se o Movimento conseguisse ganhar, como era bom daqui por uns dois anos, termos uma social-democracia em Portugal! Mas isto é muito difícil, sabe? Os tipos têm um aparelho muito forte…)

Não, não foi com esse toque de ceticismo que, ao cair da noite de 24 de abril, se montou no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha (num pré-fabricado que servia de arrecadação do quartel com as janelas tapadas com cobertores) o «centro de comando do Movimento das Forças Armadas», juntando-se a Hugo dos Santos e a Otelo Saraiva de Carvalho Garcia dos Santos, Sanches Osório, Luís Macedo, Fisher Lopes Pires e Victor Crespo.

Imagem do Espaço Museológico do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (na Pontinha)

PROIBIDOS CASAMENTOS E MAIS…

Fora a 17 de julho de 1933 que Hugo Manuel Rodrigues dos Santos nascera em Oliveira do Hospital, filho de um viajante que cirandava pela Beira Alta a vender produtos de armazém comercial – e por pouco não perdeu o sonho a que se aconchegara desde pequenino:

O meu pai adoeceu, eu andava no sétimo ano. Para ajudar à família que era modesta eu estava para interromper a escola, ir trabalhar para o Congo Belga. Esperava a carta de chamada quando familiares de Tomar ao saberem do meu gosto, disseram que me comparticipavam os estudos. Frequentar a Escola do Exército era caro, o enxoval era todo pago por nós e para além do enxoval, tudo o que utilizávamos: da cama ao colchão, dos pratos aos talheres…

Para a Escola do Exército entrou 1952 – e logo se lhe notou «tremendo o jeito para o desporto» – no voleibol, no andebol e, sobretudo, no basquetebol. Por entre a formação militar entrou na fundação do CDUL, no CDUL se tornou «desportista brilhante» e, pelo caminho, foi-se-lhe espicaçando o espírito de oposição a Salazar que já notara no pai (sempre em cuidado e secretismo), insinuando-se-lhe também o caráter destemido, a personalidade vincada:

Foram, porém, as eleições do general Delgado em 1958 que mexeram comigo, mais mexeram comigo, nesse sentido. Santos Costa era o Ministro da Defesa e tinha paixão pela Académica que se apoiava muito em facilidades através dele. Havendo necessidade de um treinador de basquete evoluído, não esteve com meias medidas: arranjou um capitão do exército americano na Alemanha. Mas para tapar o aspeto de favor, pensou num curso de treinadores para militares. Eu fui um dos que mandaram para o Regimento de Infantaria de Coimbra fazer o curso. A certa altura, o comandante chamou-nos e disse: «Têm que ir votar». E queria que fossemos com documentos que não correspondiam ao nosso nome e levássemos a lista que se imagina… Eu marquei logo uma posição: com falsidades não vou – e não fui. Fui sempre assim.

Por esse tempo também o casamento de uma professora tinha de ser autorizado por despacho no Diário do Governo – e, para tal, os noivos tinham de apresentar dois atestados: um de «bom comportamento moral e cívico» e outro a garantir que como futuro marido de professora auferia um ordenado superior ao da mulher ou possuía meios suficientes para a sustentar». Para militares havia igualmente regras e normas, impedimentos e proibições – e, por isso, Hugo dos Santos só se pôde casar aos 25 anos, quando passou a tenente:

Eu e todos. Nessa altura, havia essa limitação. Alguns que casaram em alferes, tiveram seis meses fora do serviço, de punição. Havia idade mínima e necessidade de autorização, o pai da noiva tinha que dizer que se comprometia – e ainda havia a chamada declaração de dote, que era apresentada às autoridades!

O GOLPE FALHADO E AS FINTAS

Depois de três comissões em África, em outubro de 1972 tornou-se professor da Academia Militar. Antes, Hugo dos Santos terminara em Angola o curso de engenharia, várias das suas ações nesse campo levaram-no ao Luso e por várias ações levaram-no ao Luso, onde, graças a vários soldados para lá mobilizados: do Seninho ao Chico Gordo, do Coentro Faria ao Fernando Ferreira, o FC Moxico se sagraria campeão provincial de futebol.

Antes do Golpe das Caldas (que, sendo a 16 de março de 1974, no dia em que o Sporting ganhou ao FC Porto, arrancando, assim, fulgurante para campeão, a crónica do jogo, assinada por Eugénio Alves no jornal República, seria usada, em linguagem codificada, para exortar os conspiradores a não desistirem da revolução…) a Hugo dos Santos despacharam-no da Academia Militar para Santa Margarida, por suspeita de que estivesse acamaradado aos revoltosos ligados a António de Spínola. Aliás, só não foi de pronto para a Guiné porque a lei impunha que professores catedráticos o fizesse apenas após o final do ano letivo.

Não, não se acobardou, continuou, ainda, assim, a envolver-se em reuniões clandestinas com Otelo, Melo Antunes & companhia, sabendo, por exemplo, que a PIDE lhe tinha o telefone sob escuta. Aliás, Hugo dos Santos conseguiu, sempre, fintar polícias e esbirros com o mesmo jeito que se lhe via a fintar adversários no basquetebol – e, por isso, esteve, como esteve, no comando da revolução que se desatou na madrugada de 25 de abril de 1974.

Hugo dos Santos, um dos elementos históricos do 25 de abril, foi militar ilustre, marcou a história do basquetebol nacional e ainda marca

«SUBTIL DEPORTAÇÃO» OU NÃO

Mal a ditadura caiu, Hugo dos Santos rompeu com Otelo (e com os demais elementos do MFA que caíram, de súbito, para os braços e as ideias dos partidos mais radicais da esquerda, do PCP e do MDP, da LUAR à UDP). Defendia que a revolução devia ser entregue ao povo e os militares entregues aos quartéis. Com o PREC ao rubro despacharam-no para a Roménia como «adido militar», insinuou-se que tal fora «subtil deportação» na esperança de que se convertesse aos «esplendores do socialismo real».

Não se converteu – e, com Portugal restituído à «normalidade democrática» pelo golpe de 25 de novembro de 1975, meses depois ascendeu a brigadeiro, dando-se o comando da Base Militar de Tomar. Igual função ocupou, depois, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra – e já responsável pela Direção de Serviços de Transportes do Exército em 1984 tornou-se presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol.

Promovido a General em 1986, Hugo dos Santos saltou a comandante da Guarda-Fiscal, de lá saindo em 1992, ano em que também largou a presidência da FPB. Subindo ao Conselho Superior e Disciplinar do Exército e a responsável pela Direção da Arma de Infantaria, em 1995 escolheram-no para Inspetor–geral do Exército. Eleito para presidente da Assembleia Geral da Associação de Basquetebol de Lisboa, no cargo estava quando faleceu a 5 de outubro de 2010, tendo já o nome na Taça da Liga – e, querendo ser cremado, pediu para ir vestido à civil por achar que a «farda das Forças Armadas não é para queimar»…

 

O que Artur Jorge tem a ver com suástica na caricatura de Spínola (e com autocarros impedidos de ir para Alvalade…)

Nos 50 anos do 25 de Abril, desporto e mais (3)

Por António Simões

 

Com Américo Tomás (que fora o presidente do Belenenses que lançara o Belenenses à conquista do Campeonato Nacional da I Divisão de 1945/1946, largando o cargo a meio para se tornar ministro de António Oliveira Salazar) destituído pelo golpe de 25 de abril, a 15 de maio de 1974 António de Spínola tomou posse como Presidente da República e, para primeiro-ministro do I Governo Provisório escolheu Adelino da Palma Carlos (que fora presidente da AG do Sporting entre 1946 e 1957 e 1961 e 1962).

António de Spínola nos seus tempos de campeão de hipismo

Achando-o demasiado ligado ao «poder dos grupos económicos», os comunistas forçaram-lhe a demissão. Palma Carlos apresentou-a ao cabo de dois meses, quando o MFA lhe renegou proposta de presidencialização do novo regime. Para o seu lugar foi o brigadeiro Vasco Gonçalves. Era filho de Vítor Gonçalves, o casapiano que, como jogador, estivera, com Cândido de Oliveira e Ribeiro dos Reis na primeira seleção de futebol que Portugal teve; que como treinador, por entre os negócios de cambista, dera ao Benfica o seu primeiro título na Liga (e nunca se escondera admirador de… Salazar).

Com Vasco Gonçalves cada vez mais acamaradado a Álvaro Cunhal e sem que António de Spínola se desfizesse da ideia de resolver a guerra colonial por via federalista (com a transformação das colónias em estados autónomos (independentes talvez depois mas sem pressas ou sobressaltos, dizia-o…)  – do general Spínola logo se soltou sinal de desafio que, obviamente, já nem tinha só enfoque na descolonização: «A maioria silenciosa do povo português terá, pois, de despertar e de se defender ativamente dos totalitarismos extremistas que se digladiam na sombra, servindo-se de técnicas bem conhecidas de manipulação de massas para conduzir e condicionar a emotividade e o comportamento de um povo perplexo e confuso por meio século de obscurantismo político».

«MAIORIA TENEBROSA» E AUTOCARRO DI VITÓRIA

Levados no embalo spinolistas cogitaram manifestação dessa «maioria silenciosa» que revelasse o apoio ao Presidente da República – exortando-se até que do Norte a ela descessem «mulheres a rezar o terço contra o comunismo». Agitando-se em brusco contra-ataque as hostes à esquerda do PS, famosos ficaram os panfletos espalhados pelo MDP-CDE (que teria Artur Jorge como candidato a deputado à Assembleia Constituinte), tratando a «maioria silenciosa» como «maioria tenebrosa» (com a expressão «maioria tenebrosa» a encimar caricatura de Spínola com uma suástica entre medalhas coladas ao peito da farda).

Cada vez mais divididos em campos opostos, a 26 de setembro de 1974 António de Spínola levou consigo Vasco Gonçalves a tourada a favor da Liga dos Combatentes que acabou em confronto espicaçado entre quem deixava a praça e quem, em seu redor, gritava: «O fascismo não passará… O povo diz não à reação…»

 

A TOURADA E OS JORNAIS PROIBIDOS

Antes, ouvindo-se, lá dentro do Campo Pequeno, o brado: «Ultramar! Ultramar! Ultramar!» – o cavaleiro José João Zoio desvelara cartaz de «publicidade à Silenciosa» e, vitoriando-se o Presidente da República, vaiara-se o Primeiro-Ministro. Horas depois, Vasco Gonçalves foi chamado a Belém – e, por entre ordem para que se demitir, constou que Galvão de Melo e Diogo Neto, dois dos mais fervorosos oficiais spinolistas, o agrediram.